A previsível crise global no Outono de 2011(2/2)
Barreiras, protecções, embargos à exportação, diversificação das reservas, frenesim em torno das matérias primas, inflação em espiral ascendente, o mundo prepara-se para um novo choque económico, social e geopolítico
A China anunciou há dias a sua intenção de interromper todas as exportações de gasóleo para tentar suster o aumento do preço do combustível, o que provocou recentemente uma série de greves dos transportadores rodoviários. Bom, os países asiáticos que dependiam destas exportações chinesas que se amanhem, para mais quando o Japão actuou da mesma forma como resposta às consequências da catástrofe do pretérito mês de Março!
A Rússia vai também deixar de exportar certos produtos petrolíferos para limitar a escassez e a alta dos preços internos. À interrupção da exportação junta-se a de cereais, decretada há já vários meses.
Em todo o mundo árabe, a instabilidade continua prevalecendo num contexto de encarecimento dos produtos básicos, enquanto se suscitam interrogações legítimas e prementes quanto à dimensão das reservas de petróleo e quanto à capacidade de produção da Arábia Saudita.
Nos Estados Unidos, o menor acontecimento climático que se desvie do padrão ou que não se quadre nas previsões provoca de imediato riscos de penúria devido à ausência de uma «almofada» de segurança no sistema de abastecimento norte-americano, excepto o deitar mão às reservas estratégicas (como ocorreu recentemente com as cheias do Mississípi). Entretanto, a população reduz os seus gastos alimentares para poder encher o depósito dos seus carros, com o galão de gasolina a mais de 4 dólares!
Na Europa, a redução do Estado Social e a diminuição clara da cobertura das despesas de saúde, pensões, subsídios de desemprego e encargos com a educação, bem assim, como as medidas de austeridade de uma extrema dureza, já em execução ou a implementar, no Reino Unido, Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda... aumentam exponencial e explosivamente o número de pobres.
A União Europeia acaba de reforçar de uma forma, mais ou menos sub-reptícia o seu arsenal aduaneiro, em particular para resistir às importações vindas da Ásia. Por um lado, passa em revista os seus instrumentos de medidas preferencialmente pautais para eliminar todos os países emergentes, a China, a Índia e o Brasil, à cabeça. Por outro, passou discretamente, nos finais de 2010 uma medida que facilitava a implementação de medidas antidumping e cláusulas de salvaguarda já que uma maioria simples será suficiente para aprovar uma tal proposta da Comissão, enquanto que antes fazia falta uma maioria qualificada, difícil de conseguir.
Paralelamente, os bancos centrais continuam comprando ouro, anunciando de uma forma, mais ou menos clara, que estão a diversificar as suas reservas, concomitantemente tomam medidas cada vez mais incoerentes e perigosas, aumentando as taxas para travar a inflação num quadro de economias débeis ou em recessão, com o fito de contrariar o fluxo de liquidez gerado pela política da Federal Reserve. O resultado é dar com os burrinhos na água, bem entendido!
E do lado estado-unidense, vive-se um ambiente de surrealismo absoluto: enquanto o país alcançou níveis de endividamento insuportáveis, os dirigentes de Washington fizeram desta temática uma questão eleitoralista, como é ilustrada pela questão do tecto de endividamento federal que terá já sido atingido no passado dia 16 de Maio (!). A esquizofrenia é total e sem cura! Na imprensa financeira especializada dos EUA e internacional prevalecem as comparações com os anos de Clinton ,quando se havia colocado um problema similar sem grandes consequências. Visivelmente uma parte importante das elites estado-unidenses e as financeiras não se capacitaram ainda do facto que, diferentemente, dos anos 90, os Estados Unidos assumem hoje o papel de the sick man of the planet, que, com cada sinal de debilidade ou de incoerência grave, pode despoletar pânicos incontrolados. Só não vê quem não quer ver!
Em suma, os banqueiros centrais submergidos na loucura, os líderes mundiais sem bússola ou mapa, as economias cada vez mais ameaçadas, a inflação crescente, as divisas em decadência acentuada, as matérias primas frenéticas, o endividamento ocidental totalmente descontrolado, o desemprego no seu nível mais elevado, as sociedade stressadas até ao limite ...ninguém duvidará, certamente, que a fusão explosiva de todos estes fenómenos será inequivocamente o acontecimento que nos aguarda no segundo semestre, em particular na chamada rentrée (Setembro e Outubro). Deus queira que me engane. A ver vamos!
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