quinta-feira, junho 30, 2011

Hugo Chávez estava em Portugal, em Outubro de 2010,  para dar "as duas mãos" a José Sócrates. What did really happen?


Em relação ao post imediatamente anterior, em Outubro de 2010, Hugo Chávez, desembarcava no Porto, para uma visita a Portugal, a convite de J. Sócrates, num périplo que incluía alguns países bizarros como o Irão, a Bielo-rússia Rússia, Ucrânia e a Síria, num pacote tutti-frutti que dava um pouco para todos os gostos.
Hugo Chávez, não revelando quem lhe encomendou o sermão e tratando com algum paternalismo o país anfitrião, explicava, no Porto, estar em Portugal para ajudar o primeiro-ministro "num momento difícil,” ou seja, vinha dar "as duas mãos" a José Sócrates.
O relacionamento bilateral Portugal-Venezuela ia de vento em popa. Creio que foram 6 as visitas bilaterais ao longo do mandato socrático, colocando em termos de contactos bilaterais, a Venezuela em paridade coma Espanha e suplantando o Brasil. Os acordos e protocolos bilaterais foram assinados às dezenas, sem falar nas múltiplas declarações de intenções. Portugal e a Venezuela eram grandes amigos e estabeleciam “sólidas” parcerias de mútuo e inegável (?) interesse.
Na Invicta, logo à chegada, o chefe de Estado venezuelano adiantou que ia procurar reforçar a cooperação com Portugal, garantindo que "a Venezuela vai enviar mais petróleo" e reafirmou o seu propósito de criar uma Marinha. "Até agora, não tínhamos nem um barco de papel", referiu.
Sócrates sublinhou, então, à  chegada aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, a importância dos contratos que seriam assinados, na ocasião, entre Portugal e a Venezuela.
"São da maior importância para o país e para os estaleiros navais de Viana do Castelo", disse José Sócrates, considerando este um "grande dia para a cooperação entre Portugal e a Venezuela", referindo-se aos acordos nas áreas da construção naval e ao fornecimento de 1,5 milhões de computadores "Magalhães" que seriam subscritos no decurso da visita.
Os números hiperbólicos, como sempre, do comércio externo (Sócrates y sus muchachos encarregavam-se de os empolar) faziam sonhar toda a gente – só que bem exprimidinhos não davam para nada, mas enfim...

Chávez, mostrou-se "muito interessado" na compra aos Estaleiros Navais de Viana do Castelo do navio “Atlântida”, que tinha sido encomendado pelo governo regional dos Açores e posteriormente rejeitado, porque não andava à velocidade que César queria (a César sempre o que é de César).
"Disseram-me que é um barco bom, bonito e barato. Estamos muito interessados", disse Chávez.

O chefe de Estado da Venezuela admitiu, ainda, que poderia também comprar o navio “Anticiclone”, que tinha igualmente sido encomendado pelo Governo regional dos Açores.
Já em 2008, quando da visita de Sócrates a Caracas tinha sido também assinada uma resma de acordos bilaterais – creio que 9 - , com as referencias extrovertidas e apalhaçadas de Chávez no seu programa dominical “Alô Presidente”, dizendo mais ou menos isto: “Somos um mercado, compramos porque somos consumidores e oferecemos-lhe petróleo”. Tudo muito simples e lógico.
O presidente venezuelano sublinhou que os acordos assinados em 24 e 25 de Outubro de 2010 com Portugal,  eram legítimos, transparentes e beneficiavam todos.
«Ninguém pode dizer, repito, que estamos a oferecer nada, nem uma gota de petróleo. São acordos legítimos, transparentes e claros que beneficiam todos, mas há que explicar ao povo», disse Chávez.
«...Com Portugal, estamos a enviar petróleo, derivados de petróleo e faz-se um fundo com uma percentagem da factura petrolífera. Eles (Lisboa) pagam uma percentagem, a outra percentagem que é 20 por cento passa para o fundo através do qual vamos financiar muitas coisas», afirmou.
Como exemplo do financiamento através do fundo, Hugo Chávez, citou a compra de um grande ferry a Portugal. O chefe de Estado venezuelano explicou que a rota prevista para o novo ferry é do porto de La Guaira até às ilhas de Orchila, Los Roques e Margarita.
«Eu quero meter todos esses meninos pobres de La Guaira, as famílias mais pobres, no tremendo ferry, a classe média também. São 800 pessoas. Aí está um modelo do ferry que já pronto está a partir de Portugal, (será) uma linha de ferry, turismo popular, turismo venezuelano», frisou.
Feitas as contas. O primeiro-ministro, José Sócrates, e o Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, assinaram em Viana do Castelo acordos nas áreas da construção naval e para o fornecimento de 1,5 milhões de computadores Magalhães. Portugal recuperaria também um anterior compromisso para que o Grupo Lena construísse na Venezuela 2500 vivendas pré-fabricadas, um negócio calculado em 682 milhões de euros, e, ainda, um acordo na área das energias renováveis.
Só na área da construção naval, a Venezuela assinou um conjunto de acordos com os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), sendo um dos mais emblemáticos o da adaptação do ferry “Atlântida” para o transporte de passageiros e viaturas - uma encomenda avaliada em 35 milhões de euros.
Ainda na área da construção naval, os ENVC vão receber da Venezuela a encomenda para a construção de dois navios de transporte de asfalto, no valor de 130 milhões de euros.
"Serão encomendas importantes para assegurar o futuro dos Estaleiros de Viana do Castelo", disse à agência Lusa uma fonte diplomática

Qual foi o resultado de tudo isto?
Os estaleiros navais de Viana do Castelo estão em risco de fechar as portas e cerca de 380 trabalhadores vão ser dispensados (leia-se, despedidos). Ninguém atende os telefones em Caracas. O contrato para o “Atlântida” nem sequer foi assinado e o navio continua à espera, na doca, a ganhar ferrugem.
E os computadores Magalhães da firma J.P. Sá Couto?
E as 2.500 vivendas pré-fabricadas?
E as energias alternativas?
E, por fim, os navios  de transporte de asfalto?
Isto da diplomacia económica tem muito que se lhe diga. Fazer negócios com gente pouco séria ou mafiosa dá nisto. É por estas e por outras que fazer negócios com Chávez ou com Khadafi não são propriamente recomendáveis, excepto para personagens bizarras como D. Martín de la Cruz (que por sua vontade ia à todas) e José Sócrates (que apesar das habituais aldrabices foi engrolado à grande e à francesa pelo ditador venzuelano). Será que, agora, nos deixam também fazer negociatas com o cartel de Medellín ou com o de Tijuana? É que é capaz de dar dinheiro?

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