segunda-feira, junho 20, 2011

Grécia, um jardim no Merditerrâneo?


Bom, chamar-lhe jardim será um manifesto exagero. Trata-se de um vulgar canteiro com  quatro arbustos em frente do hospital Evagelismos, um dos principais estabelecimentos hospitalares de Atenas. Sem embargo desse hospital fechar invariavelmente as respectivas contas anuais contas com os números em vermelho vivo, forçando o Governo a injectar-lhe, com regularidade, injecções maciças de dinheiro para o manter à tona de água, o certo é que esse diminuto espaço de terra com 4 míseros arbustos é assistido por 45 jardineiros (!), pagos pelo erário público grego.
Este é um de vários exemplos que nos explicam porque é que a Grécia, virtualmente insolvente está à espera que soe o gongue da bancarrota final, que não irá tardar, ao ter acumulado uma gigantesca dívida pública que ultrapassa os 340 mil milhões de euros (ou seja, o equivalente a cerca de 30.000 euros por cidadão helénico). Mas os casos abundam e são de tal forma indecorosos que seriam  necessárias uns milhares de páginas, da Internet ou de papel físico, para os relatar na íntegra.
O problema na Europa é este: durante quanto mais tempo os demais europeus estão dispostos a pagar por este louco despautério e acudir ao fogo da casa helénica que arde por todos os lados?
Atente-se, por exemplo, num outro caso. 40.000 meninas e senhoras recebem uma pensão vitalícia (!) de 1.000 euros/mês pelo simples facto de serem filhas solteiras de funcionários falecidos, o que custa aos cofres do Estado 550 milhões de euros por ano (a partir de agora a cobrança desta “pensão de órfãs” extingue-se aos 18 anos, mesmo assim...).
Mas há mais, sempre mais. O que dizer de 50 motoristas para um único carro oficial, o que, aparentemente, é corrente nalguns ministérios e secretarias de estado gregas. Ou ainda o caso dos “pace makers” dos hospitais helénicos que são comprados a um preço que é 400 vezes (leu bem: quatrocentas vezes!) superior ao que pagam os hospitais do Reino Unido. 
Já agora há que mencionar-se os 4.500 mortos, cujos familiares bem vivinhos da costa, “esqueceram-se” de comunicar à Segurança Social o falecimento, continuando, assim, a empochar a pensão de aposentação dos defuntos, o que custa ao Estado a módica quantia de 16 milhões de euros ao ano.
Em matéria de aposentações atente-se que, como é sabido, na Grécia inúmeras categorias sócio-profissionais beneficiam de reformas antecipadas, fixadas para as mulheres em 50 anos e nos homens aos 55 – isto se os eventuais beneficiários pertencerem a uma das 600 categorias laborais definidas por lei como sendo de desgaste rápido, nas quais se incluem, por exemplo, os cabeleireiros (deve ser dos efeitos tóxicos da laca e das tintas para o cabelo), os músicos de instrumentos de sopro (andar a soprar flauta é, de facto, esgotante) ou apresentadores de televisão (os microfones estão infestados de micróbios e os holofotes são nocivos para o cancro da pele)   
Mas creio que quem sobe ao pódio em primeiro lugar e digno de figurar, com destaque, no Livro Guinness das inutilidades é o Instituto Público para a Protecção do Lago Kopais, um lago que secou em 1930 (!). Francamente!
Mas se tudo isto ainda vos sabe a pouco, o que dizer da evasão fiscal? Pelos cálculos do Ministério do Trabalho um em cada quatro gregos não paga um tostão de impostos.
Todavia, sabe-se que no último ano, adoptaram-se fortes medidas de austeridade: os salários dos funcionários públicos sofreram um corte médio de 20% e as pensões de aposentação 10%, eliminaram-se vários bónus e estipêndios extras (a Grécia tinha 13º, 14º e 15º mêses, agora reduzidos a subsídios meramente simbólicos) e subiram-se os impostos . Resta saber se tais medidas foram necessárias e suficientes. Em boa verdade, não foram!
Assim, o novo Governo helénico contempla a hipótese de não só levar a cabo um
amplo programa de privatizações e medidas acrescidas de austeridade, mas também o despedimento parcial de 750.000 funcionários públicos, num país sensivelmente com a mesma população de Portugal e com 4,3 milhões de trabalhadores.
Pensamos que a tanto ainda não chegámos e de facto saudamos a imaginação e a criatividade dos gregos, pois há coisas de que jamais nos lembraríamos, mesmo nos nossos momentos de delírio mais arrebatado. E vistas bem as coisas existem de facto umas diferençazinhas entre Portugal e a Grécia. O problema é se a moda pega...
É por estas e por outras que os alemães, franceses, holandeses e nórdicos não podem confiar nas gentes do Sul.

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