Carta aberta ao futuro Ministro dos Negócios Estrangeiros
Com a devida vénia, transcrevemos na íntegra, do blogue albino zeferino
o texto abaixo reproduzido. Muito tiros acertam na "mouche", porém nem todos. Registam-se, por exemplo, as referências a Freitas do Amaral, esse sublime troca-tintas da política lusa. Por outro lado e contrariamente ao que defende o autor, o MNE jamais irá integrar o AICEP nas suas estruturas. Jámé! Mé! Mé! Veja-se a confusão incomensurável suscitada com a criação da Direcção Geral dos Assuntos Técnicos e Económicos, onde cabe tudo e mais alguma coisa e os resultados são nulos, para mais com a condução atrabiliária que tem tido. Segue, pois:
CARTA ABERTA AO FUTURO MINISTRO DOS NEGÓCIOS ESTRANGEIROS
Senhor Ministro
Excelência
Seja quem fôr V.Exª. encontrará aqui preciosos conselhos para exercer convenientemente a espinhosa missão que lhe irá ser confiada. O Ministério (vulgarmente conhecido pela Casa) é uma amágama de interesses mais ou menos ocultos que apenas uma coisa têm em comum: meter o ministro no bolso. Esta mania vem-lhes da época revolucionária quando os ilustres antecessores de V.Exª. pouca ou nenhuma ideia tinham do que estavam a fazer e se entregavam despudorada e escandalosamente para os braços dos destemidos diplomatas que, cansados de tanta perseguição fascista, se degladiavam para obter as boas graças (diziam eles entre si "passar-lhe a capa") do ministro de turno (fosse ele quem fosse). Com o andar dos tempos e graças à vertiginosa sucessão de ministros que se foi verificando, o pessoal em serviço no Ministério deixou de assentar exclusivamente nos briosos diplomatas para ser enriquecido por inteligentes e habilitados assessores técnicos que sucessivamente foram engrossando os quadros do pessoal do Ministério (que por essa razão deixou aos poucos e poucos de ser familiarmente tratado por Secretaria de Estado para recordar os heróicos tempos de D.Luis da Cunha quando só os diplomatas pontificavam). Terá assim V.Ex.ª à sua disposição uma pleiade de corajosos e desempoeirados funcionários capazes de dar a vida por V.Ex.ª ou pelos seus projectos a troco de uma qualquer intimidade que V.Ex.ª resolva conceder-lhes a troco de jurada fidelidade e confessada devoção.
Constou-me que, na tentativa de acompanhar o comboio da recuperação económica, V.Ex.ª teria em mente juntar ao seu ministério o famoso AICEP (antigo ICEP) selecto organismo que medra em redor dos sucessivos Ministros da Economia como feudo privado para as suas incursões externas e que até hoje nenhum MNE conseguiu subtrair ao colega da Economia. Deixe-me felicitar V.Ex.ª pela corajosa e destemida resolução (para cuja concretização lhe desejo as maiores felicidades) na certeza de que irá assim contribuir para uma substancial melhoria da eficácia governativa com uma redução de custos ao Estado exangue e uma inteligente racionalização dos excepcionais meios humanos postos à sua disposição. Saiba V. Ex.ª que existe (desde a famosa reestruturação feita pelo ilustre administrativista Prof. Freitas do Amaral quando exerceu as funções agora felizmente cometidas a V.Ex.ª) no ministério uma direcção-geral (cuja designação me escapa agora) mas que tem por função articular com o AICEP a politica económica externa do Estado. Diziam as más línguas (que abundam invejosamente no ministério) que a criação de tal organismo se deveu à critica constante das oposições (sempre prontas a denegrir nas acertadas opções governativas) de que a politica económica externa escapava ao MNE. Amaral resolveu de uma penada este intrincado problema lançando à cara estupefacta da opoisição nada mais nem nada menos do que uma direcção-geral sem conteudo mas cheia de divisões (da diplomacia económica, das activadades económicas externas, das organizações económicas internacionais, etc. etc.) que entregou a uma amiga do peito, ilustre diplomata experiente e competente, que aguarda despacho de V.Ex.ª para ser colocada como embaixadora num cómodo país europeu onde tenciona acabar a sua carreira para o ano que vem.
A genial decisão de V.Ex.ª de chamar a si a gestão do AICEP (agora livre da antiga presidencia que lhe coartava a competencia e lhe sugava os meios) vai certamente conferir uma nova e alargada dimensão ao ministério dos Negócios Estrangeiros que ansiosamente espera pela chegada de V. Ex.ª cansado das atribulações e das contradições dos socialistas que só desacreditaram Portugal na esfera extarna.
Com os melhores cumprimentos e a Bem da Nação
ALBINO ZEFERINO (correspondente diplomático) em 14/6/2011
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