domingo, junho 05, 2011


A previsível crise global no Outono de 2011 (1/2)



O segundo semestre deste ano constituirá uma etapa decisiva na evolução da crise sistémica global. À semelhança da crise do sub-prime de Setembro de 2008, afigura-se que se reúnem agora todas as condições para que em Setembro-Outubro deste ano a economia dos EUA seja afectada por um abalo telúrico de grande magnitude, ou seja, aquele contexto e momento, seráo o cenário para a fusão explosiva de duas tendências fundamentais  subjacentes à crise sistémica global, a saber: a desarticulação geopolítica e a crise económica e financeira planetária.
Estabelecendo um termo de comparação com o krach de 1929 que está na origem da Grande Depressão da década de 30 e de uma crise profunda que só viu o seu termo em 1954, Setembro de 2008 é, pois, o despoletar da crise, para que foram à pressa encontrados uns paliativos mal amanhados e assistimos agora à evolução, digamos, natural, de todo o processo, que, sublinhamos, não tem qualquer solução à vista.
Desde há vários meses que o mundo sofre, quase ininterruptamente uma sucessão de choques geopolíticos, económicos e financeiros que constituem, por assim dizer, os precursores de um grande acontecimento traumático cujos contornos começam, no nosso entender, a divisar-se com mais nitidez.
   Simultaneamente o sistema internacional já ultrapassou o estádio de debilidade estrutural para entrar numa fase de ruína completa em que as antigas alianças se desmoronam enquanto emergem muito rapidamente novas comunidades de interesses e novos rumos em direcções, no mínimo problemáticas.

Finalmente, desvaneceram-se todas as esperanças de uma recuperação significativa e sustentável da economia mundial enquanto o endividamento do pilar ocidental, em particular os Estados Unidos, alcança um limiar crítico sem precedentes na História moderna

O catalisador desta fusão explosiva será, desde logo, o sistema monetário internacional, ou melhor dizendo o caos monetário internacional que se agravou ainda mais desde o desastre nuclear de Fukushima que afectou o Japão no passado mês de Fevereiro e perante a manifesta incapacidade dos Estados Unidos em  confrontar-se com a exigência imperativa de redução imediata e significativa dos seus défices incomensuráveis.

O fim da QE2 (Quantitative Easing 2), símbolo e factor da fusão explosiva em incubação, representa o fim de uma época, em que o «dólar era a divisa dos Estados Unidos e o problema do resto do mundo »: a partir de Julho de 2011, o dólar constitui-se abertamente como a principal ameaça para o mundo e o problema crucial dos Estados Unidos.

Durante o Verão que se aproxima confirmar-se-á que a Reserva Federal perdeu a sua aposta: a economia norte-americana jamais saiu da «Enormíssima Depressão» em  que entrou em Setembro de 2008, sem embargo da injecção artificial de milhares de milhões de USD no mercado, sobretudo por via electrónica,  como, aliás, não o desconhece a esmagadora maioria dos cidadãos estado-unidenses. Registe-se que a crise no sector imobiliário, por exemplo nos EUA, mas não só, é sintomática do carácter estruturante da recessão que, como tudo leva a crer, está para ficar. Sem poder lançar o QE3 (ainda que o possa fazer oficiosamente, através dos chamados Primary Dealers, como na realidade o fazia, no passado recente, quando o mundo ainda não seguia de perto o mercado dos T-Bonds – ou seja, das obrigações do Tesouro –, como o faz hoje), a Reserva Federal será uma testemunha passiva, impotente e incapaz perante a subida vertiginosa das taxas de juro, a explosão do custo dos défices públicos norte-americanos, a imersão numa recessão económica agravada, o afundamento dos títulos cotados em bolsa e o comportamento errático da sua divisa, a curto prazo, seguindo um processo, numa fase inicial, oscilante com altos e baixos, consoante a influência maior ou menor destes diferentes fenómenos, antes de deixar cair o dólar brusca e desamparadamente para 30 % (ou mais)  do seu valor.

Entretanto, a Eurolândia, os BRICS e os produtores de matérias primas reforçarão rapidamente a sua cooperação  numa última tentativa para lançarem uma bóia de salvação a fim de preservarem as instituições de Bretton Woods (FMI e BM) e do mundo dominado pelo tandem  EUA/RU. Será a derradeira tentativa, já que é quimérico imaginar Barack Obama, que, até agora não patenteando as menores estatura e nível internacionais, surja, out of the blue, arvorado em estadista, que não é, e consequentemente a assumir importantes riscos políticos a um ano do sufrágio presidencial. Ninguém no seu perfieto juízo acredita em histórias da carochinha!

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