sexta-feira, março 05, 2010

Turquia – a República do medo - A prisão, na semana passada de várias dezenas de militares de alta patente marca claramente o derradeiro passo do regime para o autoritarismo. Nem a Europa, nem os EUA, podem dar-se ao luxo de ignorar esta metamorfose, aliás previsível, da Turquia.
A subida ao poder em 2002 do AKP o partido Islamista da Justiça e do Desenvolvimento e o movimento ultra-conservador Fethullah Gulen detém já um ascendente considerável sobre as forças policiais e os meios de comunicação social. Emulando o PM russo, Vladimir Putin, o AKP utilizou selectivamente a legislação em vigor para silenciar eficazmente os dois maiores grupos mediáticos do país.
Dogan, que controla cerca de metade dos media do país, confronta-se com o pagamento de quase 2,8 mil milhões de euros em impostos atrasados. O magnata dos media liberais Mehmet Emin Karamehmet foi condenado a 12 anos de cadeia acusado de operações bancárias ilegais de que havia sido previamente ilibado. Os editores são agora forçados a pensar duas vezes antes de publicarem crónicas, editoriais ou notícias demasiado críticas para o executivo.
Até uma data recente, os juízes e os militares foram capazes de manter os excessos governamentais sob controlo. Este aparente equilíbrio entre islamistas e secularistas desmoronou-se há algumas semanas quando os jornais gulenistas publicaram um memorando com cerca de 5.000, alegadamente redigido por militares que planeavam um golpe de estado.
A maior parte dos analistas afirmam que se os militares quisessem realmente derrubar o Governo não faria qualquer sentido descreverem pormenorizadamente o que planeavam fazer num documento com 5.000 páginas. A ideia de que os militares visavam bombardear as mesquitas históricas de Istambul e disparar contra os seus próprios aviões para precipitar o golpe – tal como está descrito no memorando – é, no mínimo, totalmente fantasiosa e na aparência fabricada. Os oficiais das F.A.s negam peremptoriamente disporem de quaisquer planos para derrubar o governo, afirmando que o documento foi, na quase totalidade, extraído de um exercício militar de 2003. Alegam que os elementos incriminatórios detalhando o suposto golpe de estado foram acrescentados ao texto inicial.
Nos últimos dois anos, os militares turcos, têm sido alvo de escutas ilegais e de acusações de que estão permanentemente a conspirar contra o governo. A questão consiste em saber se os militares vão tolerar este estado e coisas ou tencionam ripostar, como fizeram no passado, quando pensaram que a natureza laica do estado turco estava a ser ameaçada.

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