quarta-feira, março 10, 2010

Madeira - Timor - Interessante este artigo, já datado do "Diário da madeira", subscrito pelo respectivo editor de política, Miguel Silva, que passamos a transcrever, com a devida vénia:


Duas linhas

Uma bofetada de luva branca
Data: 26-02-2010 




Faço parte daquele enorme grupo de madeirenses 
que nunca esqueceu a arrogância do presidente 
do Governo Regional da Madeira quando, em 
1999, disse: "Nem um tostão para Timor!" 
Fiquei ainda mais magoado quando, um ano
depois, tive a oportunidade de visitar Timor-
Leste integrado na comitiva que acompanhou
o Presidente da República Jorge Sampaio em
visita oficial. Vi casas destruídas, vi gente 
humilde, sem nada. Gente que ainda falava 
algum português, que pedia ajuda e que 
precisava mesmo dessa ajuda. E lembrava-me,
nessa Díli ainda destroçada, do presidente do
governo da minha ilha: "Nem um tostão para
Timor!". 

Agora que Timor começa a erguer-se
mas revela ainda muitas fragilidades, é a nossa 
Madeira, a 'Singapura do Atlântico', a merecer
a ajuda de fora. Ao contrário de mim, Ramos-
Horta e Xanana Gusmão já esqueceram o que
disse Jardim. E agora, em vez de nem um tostão
para a Madeira, vejo com emoção um país bem
mais pobre que a nossa rica Região a dizer:
"100 mil contos para a Madeira!". Timor,
um dos países mais pobres do mundo, desvia
dos seus cidadãos 556 mil euros (ou 750 mil
dólares) para ajudar a manter o bom nível de
vida de uma Região que se apresenta com
indicadores que a deixam como uma das mais
ricas da União Europeia. E Timor não se limita
a um tostão: oferece mais de dois euros a cada
madeirense. 

Sei que este não é o momento para
tricas políticas. Que a hora é de trabalhar pela
reconstrução, chorar os mortos e proteger os
vivos. E, sinceramente, acho que estamos a
fazer bem o que é possível fazer nesta altura.
O Governo, as Câmaras, as Juntas, os 
Voluntários. Mas é difícil ficar insensível
perante os contributos vindos de fora. Além
dos efeitos práticos na reconstrução, a 
solidariedade de anónimos e as visitas dos
'cubanos' Sócrates e Cavaco e ainda o dinheiro
 do patrão do 'Pingo Doce' obrigam-nos não 
apenas a ter mais cuidado com o planeamento
urbanístico como também a ter mais tento na
língua. Nas desgraças é assim: hoje eles, 
amanhã nós-

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