sábado, março 27, 2010

O grande embuste – A entrada de Portugal na então C.E.E., hoje U.E., assentou basicamente em duas ou três premissas: (i) encerrado o ciclo do império, tratava-se de uma questão de sobrevivência porque não existia qualquer outra alternativa; (ii) todo o relacionamento exterior de Portugal, desde o comércio externo, passando pelas correntes tradicionais da emigração, para culminar nas relações politicas preferenciais tinha como ponto focal  o espaço europeu, ou seja a Europa, mais Europa e sempre a Europa; (iii) desta fluíam rios de leite e mel e os lusitanos, tal como outros, iriam beneficiar dessa dádiva celestial. Poderíamos acrescentar mais qualquer coisa ao quadro, mas o essencial girava em torno disto.  Corrijam-me se estou a asnear!
Assim se contou esta história às criancinhas e, mal e porcamente, se explicou a mesma historieta ao Povo. Mais. Não podiam subsistir dúvidas nem interrogações. Pela boca de Mário Soares, o maior demagogo e trafulha da história portuguesa (de que, aliás, Sócrates é um fraco imitador), o Povão não tinha que se pronunciar, nesta questão, que afectaria o seu futuro e o dos seus descendentes para sempre,  porque os “partidos democráticos” eram favoráveis à entrada de Portugal na C.E.E.  Logo a questão não era essencial e, alem disso, estava toda a gente que contava basicamente de acordo, leia-se do mesmo lado da barricada – os comunas, não, mas quem são os comunas?
Em suma, esta mais não foi que a habitual politica lusitana da meia-bola e força e quem vier a seguir que feche a porta.
Assim, as explicações não primaram nem pela clareza, nem pela profundidade. Não houve verdadeiro debate público. Não se pesaram os prós e os contras. E, sobretudo, não se advertiu o “pagode” de que haveria uma factura a pagar, nalguns casos bem pesada, que  se divisavam perigos na linha do horizonte e que o pais poderia não estar preparado para o grande embate – a adesão poderia constituir um tratamento de choque que poderia dar nova vida ao doente ou atirá-lo para o outro lado.
Lá vamos, cantando e rindo...Primeiro com Cavaco: “deixem-nos trabalhar” – leia-se, não vêem o leite e o mel a correr pelas ruas? Querem acabar com isto? Eu até não tenho dúvidas e raramente me engano. Depois, com Guterres que, sem prejuízo do verbo fácil, nunca percebeu o que estava a fazer e cada vez se afundava mais no “pântano da politica portuguesa”. A bem dizer, as dificuldades surgiram na última fase de Cavaco em que o leite e o mel começaram a correr em menor quantidade e, principalmente, com Guterres, que, atarantado, não  se assumiu como governante.
Aí, constata-se que o “país está de tanga”, Barroso dixit, verdade de Lapalice, mas, cá pelo sim ou pelo não o melhor é abandonar o barco. Vem Santana, playboy assumido e sem qualquer ideia digna desse nome na sua pobre cabecita louca.
Pois bem, Guterres demite-se, porque não está para aguentar o estado a que as coisas chegaram e acaba por ganhar um belo tacho (tachão) como Alto Comissário para os Refugiados. Barroso foge cobardemente para Bruxelas, deixando o “rectângulo” entregue à bicharada. E, e, e...com um super-tachão. Santana é despedido como uma criada de servir.
Sócrates vem na linha directa desta gente. Só que depois dos grandes equilíbrios macro-financeiros dos primeiros tempos, tentados mas nem sempre conseguidos, lá foi gastando alegremente. Era preciso dar ao povo a noção de que ainda havia leite e mel. Não, não havia. Não teve a mais pálida  ideia do furacão que se avizinhava e interrogado sobre a crise financeira, retorquiu que isso era com os outros, que não era connosco.  Depois, entra tudo em derrapagem: o leite e o mel deixaram de correr de vez. Mas continuou a escamotear os problemas, a fazer de conta, a mentir – nas pequenas e nas grandes coisas (o que nem sequer é grave, no dizer de Inês de Medeiros).
Agora, Sócrates apressa-se a dizer que não somos a Grécia, que as situações não são comparáveis, que isto está muito melhor do que por aí se diz. Com franqueza, alguém acredita realmente nestas balelas?
Não podemos fazer nada. Estamos de pés e mãos atadas.
Tinham de ser tomadas medidas a sério que implicavam grandes sacrifícios. Todos nós sabemos disso. Tal não foi feito.
A factura será ainda mais pesada ou, mesmo, incobrável, mas ninguém tem a coragem de nos dizer isto mesmo e de assumir as suas responsabiidades.
É este o grande logro, o grande embuste, a grande patranha.
Infelizmente, inscreve-se num conjunto apreciável e, como vimos, constante e sólido de inverdades, de mentiras e de mentirolas. 

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