segunda-feira, março 21, 2011

Wikileaks faz estragos: o embaixador americano no México demite-se devido à divulgação de telegramas diplomáticos


De acordo com declarações proferidas, no passado fim de semana, pela Secretária de Estado, Hillary Clinton,  a divulgação de uma série de telegramas diplomáticos confidenciais, oriundos da rede Wikileaks, foi objecto de queixas acrimoniosas por parte do Presidente Calderón do México o que levou a que o embaixador americano naquele país  tivesse apresentado a respectiva demissão.
O embaixador, Carlos Pascual, de origem cubana, era um perito nos chamados “Estados falhados”. Parece que numa fase inicial, terá, de algum modo, conseguido moderar o criticismo de Felipe Calderón. Todavia, a  crispação aumentou  quando a Wikileaks divulgou um telegrama de Dezembro último que citava directamente as interrogações do embaixador Pascual  relativamente à relutância manifestada pelo Exército mexicano em agir com base em informações da intelligence americana acerca do capo de um cartel da droga. Este líder do narcotráfico terá sido posteriormente capturado pela Marinha mexicana. Nesse telegrama, o embaixador consideoru que as forças armadas e a polícia mexicana eram "corruptas, lentas, avessas ao risco e dependentes dos EUA para lutarem contra o tráfico de droga." Num outro telegrama, Pascual terá  posto em causa a capacidade do México em lidar com o problema brutal da droga que terá feito mais de 35.000 mortos nos últimos 4 anos.

O Presidente Calderón manifestou-se particularmente perturbado pelos comentários de Pascual admitindo implicitamente que os “soldados mexicanos não seriam suficientemente corajosos” para levarem a cabo determinadas tarefas no âmbito da luta anti-droga. Todavia, recentemente, o embaixador Pascual foi visto em visita a Ciudad Juárez, no Norte (junto à fronteira com o Texas), louvando os vínculos que existem entre as autoridades americanas e mexicanas.

Sem embargo, Hillary Clinton declarou que Carlos Pascual terá chegado à conclusão que devia abandonar as suas funções “para assegurar a forte relação entre os nossos dois países e para evitar envolver-se em temas suscitados pelos Presidente Calderón que poderiam desviar-se da questão de fundo que é a excelência das relações bilaterais”.
De qualquer das formas, as relações tensas entre Pascual e o Presidente mexicano já tinham em si mesmo consistido numa distracção. O gabinete de F. Calderón, que não comentou as declarações da Secretária de Estado, já tinha dado a entender claramente, há várias semanas, que Pascual devia ser chamado para consultas sem regresso ao posto (por outras palavras, demitido).
O jornal pró-governamental “El Universal”, na sua edição de 22 de Fevereiro, referia que os telegramas divulgados pela rede Wikileaks revelavam que a embaixada americana  patenteava “ignorância” sobre a aplicação da lei no México.
O Chefe de Estado reiterou a sua frustração durante uma viagem a Washington que teve lugar este mês para se avistar com Barack Obama e os media mexicanos têm glosado o tema em permanência.
Alguns analistas políticos afirmam que os telegramas divulgados, da autoria do embaixador Pascual e dos seus colaboradores, descrevem o que consideram ser obstáculos burocráticos inesperados e receios quanto ao controlo por parte dos cartéis de Ciudad Juárez que mais não são que o reflexo do que se pode ler  na própria comunicação social mexicana. .
Outros, tal como o historiador Lorenzo Meyer, salientaram que os presidentes mexicanos atacam muitas vezes o embaixador americano quando se sentem pressionados pelos EUA. De acordo com fontes quer americanas, quer mexicanas, a  tensão aumentou quando pistoleiros abateram a tiro um agente nos arrabaldes da Cidade do México. De registar que Carlos Pascual é um dos funcionários mais graduados a ser transferido na sequência dos escândalos provocados pelas fugas de informação da Wikileaks. O embaixador americano na Líbia foi retirado em Janeiro quando os telegramas da sua autoria foram publicamente divulgados, nos quais o representante diplomático dos EUA entrava em pormenores sobre as idiossincrasias e manias do líder  líbio Muamar al-Gaddafi.
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1 comentário:

Anónimo disse...

Muito interessante este assunto.