quarta-feira, março 09, 2011

Chocolates de sangue - 1/2



Sabia que mais da metade do cacau que se consome no mundo vem de África? Sabia que existem ali roças (quintas) onde trabalham cerca de 300.000 crianças dominadas pela influência das multinacionais e fora dos parâmetros do comércio justo? Provavelmente já ouviu de tudo isto, mas com alguma descrença.

A árvore Theobroma cacao, cacau, ou" Alimento dos Deuses "é uma planta originária da América do Sul que é"nativa” ao continente  americano e “estrangeira” em África. Esta última variedade, pelos seus componentes taninos e  preço mais acessível tornou-se no produto mais solicitado pela indústria alimentar ocidental, transformando a Costa do Marfim (38% do mercado mundial), Gana (19%), Nigéria (5%) e Camarões (5%) nos maiores produtores mundiais de cacau.

Em nossa opinião, os chocolates e bombons Nestlé são feitos de verdadeiro sangue negro. Com efeito o sabor doce do chocolate faz-nos esquecer o gosto amargo do seu fabrico. Todavia se você manifesta um mínimo de preocupação pela Justiça e pela Dignidade Humana, se estes conceitos ainda não estão ultrapassados, não passe adiante e leia o que se segue.
Como se sabe, o chocolate é um produto alimentar doce fabricado à base de uma matéria-prima: o cacau. O continente africano produz 80% do cacau que, de imediato, se distribui pelo mundo inteiro sob a forma de bombons, tabletes ou em pó de chocolate para apaladar o leite das crianças.
Para nos inteirarmos do processo de fabrico temos que ir a uma pequena esquadra de policia de uma qualquer aldeola do Mali, na África Ocidental. Aí, os arquivos sobre crianças desaparecidas amontoam-se interminavelmente sobre as mesas e as estantes. O chefe da policia local não tem quaisquer dúvidas sobre o o local onde foram parar as crianças. “Efectivamente, lá existe escravatura”, disse referindo-se ao país vizinho, a Costa do Marfim. “Os meninos tem de trabalhar duramente de tal forma que muitos adoecem ou morrem.” 
As crianças pertencem às regiões mais pobres do Mali. São filhos e filhas de vendedores ambulantes ou habitantes de favelas, cujos país os vendem por 30 dólares.
As crianças trabalham cerca de 12 hora diárias, utilizam ferramentas perigosas e estão expostas à manipulação de pesticidas


Algumas crianças têm menos de 11 anos de idade. São consideradas, para todos os efeitos, como prisioneiras nas plantações e são espancadas se tentam escapar. À maioria faltam-lhes dedos porque são obrigadas a a trabalhar jornadas de 14 horas com ferramentas perigosas e manuseando produtos altamente tóxicos como pesticidas. Após cada dia de trabalho devem arrastar sacos de 70 quilos de sementes de cacau até aos armazéns das plantações (este peso tem incidências no respectivo crescimento e produz deformações na coluna vertebral;  na adolescência  estas crianças serão irremediavelmente aleijadas). Se se atrasam no labor diário são agredidas. É melhor não fazer perguntas sobre as meninas.
Pensa-se que pelo menos 15.000 crianças trabalham nestas condições  na Costa de Marfim, produzindo o cacau que abastece pelo menos metade da procura de chocolate a nível mundial. A maior empresa neste ramo agro-alimentar é a Nestlé.

A organização "Save the children" estabeleceu um centro de acolhimento na fronteira para aquelas crianças que podem escapar das plantações. Até à data permanece vazio. O seu director, Salia Kante, tem uma mensagem para os consumidores:
"As pessoas que tomam esse chocolate estão bebendo sangue. O sangue de crianças que têm de carregar sacos de cacau tão pesados que lhes laceram os ombros"
Será por essa razão que as embalagens dos produtos Nestlé são vermelhas?”

Segundo o ex-primeiro-ministro marfinense, Pascal Affi N'Guessan, as grandes empresas fabricantes de chocolate só estão interessadas nos seus próprios lucros. A Associação para a defesa dos Direitos Humanos ILRF está convencida de que a Nestlé conhece o fenómeno, porque periodicamente visita as plantações para averiguar a qualidade do produto

Mas não acabam aqui as canalhadas. Em 2002, a Nestlé exigiu à  Etiópia, um país esgotado pela fome, seis milhões de dólares (uma migalha para a  Nestlé, visto que representa apenas 0.0007% dos  seus dividendos) para compensar a nacionalização em 1975 de uma sua empresa pelo regime pró-marxista daquele país, dessa época.

Além disso, a multinacional suíça foi muito criticada, por promover o consumo de leite em pó  em detrimento do leite materno para alimentação dos bebés, especialmente nos países do Sul, onde a água potável acaba por ser um luxo e o leite em pó mistura-se amiúde com água contaminada.

E na América Latina?

O Departamento Administrativo de Segurança (DAS) colombiano interditou no passado dia 22 de Novembro no departamento de Quindío 8.094 pacotes de 25 quilos de leite em pó "caducados desde há muito" que estavam a ser reembalados e rotulados com datas de produção falsas.

O leite em referência destinava-se à Venezuela. A este respeito, assim se pronunciou  o senado venezuelano:
...[manifesta]
el más enfático repudio a esta maniobra tramposa  de la transnacional Nestlé, felonía que empieza por importar leche del extranjero a Colombia, a pesar de que ésta empobrece y empuja hacia la ruina a los ganaderos colombianos, sigue por hacerle fraude a un país en donde lleva décadas sacando multimillonarias utilidades y concluye atentando de manera gravísima contra la salud de nuestras gentes, y especialmente de los niños.

Seguindo na Colômbia, a organização SINTRAINAL denuncia que a Nestlé se apoia se  em grupos paramilitares para intimidar e atentar contra os trabalhadores e os sindicalistas que protestam contra as degradantes situações de trabalho.

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