sexta-feira, março 04, 2011

Portugal na encruzilhada (2/4)



Durante anos e anos, os nossos dirigentes, a classe política e, no geral, as chamadas elites nacionais, deliberada e acintosamente  escamotearam-nos os factos porque não lhes interessava que a verdade emergisse porquanto contrariava frontalmente as suas teses,  criando-se, então, um conjunto de mitos descabelados, inconsistentes e imbecis, para justificarem o seu pensamento e as suas acções. Em suma, mentiram-nos.
À semelhança de outros, desde os bancos da faculdade e, em especial, no período pós-abrilino, deparei com artigos de jornais e de revistas, já antigos, com dados estatísticos e gráficos que contrariavam o pensamento dominante. Jovens economistas, historiadores e outros estudiosos, em conversa amena, levantaram-me uma ponta do véu, mas à época tudo isto era politicamente incorrecto (leia-se: altamente incorrecto, um verdadeiro anátema em relação ao pensamento assumido do mainstream dominante). Vivia-se, primeiro, a euforia dos 3 D’s (“democratizar, descolonizar, desenvolver”), depois os fundos de pré-adesão e de adesão à então C.E.E., a política do betão, em seguida a Expo-98, a entrada no Euro, os governos alegadamente dialogantes “à la escandinava”  e por aí fora. Era, pois, uma heresia extrair a conclusão óbvia desses dados.
Por outras palavras, em termos de produtividade, riqueza e endividamento assistiu-se:
- a um crescimento ténue mas constante de 1880-1910
- a um caos total, em termos de indicadores de riqueza, que nos fez recuar 30 anos, de 1910-1926 (I República)
- a um maior período de convergência com a Europa nos últimos 200 anos, de 1926 a 1974 (salazarismo-caetanismo)
- finalmente, se tivermos em conta as projecções até 2015, a fase que se avizinha,  consistirá num período de divergência em que estaremos em termos relativos face à U.E. numa situação bem pior que a de 1974.

Para que as coisas se tornem claras, não sou um defensor de ditaduras, e apenas admiro Salazar, como figura histórica, nos exactos termos dos seus êxitos e dos seus malogros, dos seus méritos e dos seus defeitos, num período perfeitamente balizado no tempo e no da nossa memoria colectiva, mas os dados referenciados, fazem-me pensar se, com efeito,  somos uma sociedade suficientemente madura para termos uma democracia nos moldes actuais.

Já agora para que não subsistam dúvidas por parte de quem me lê, consultem-se as seguintes páginas Web:
·      “Infografia: 100 anos de finanças públicas” (http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=447085)
·      “Evolução do PIB per capita na Europa – 1926-1974” (http://pedroarrojagrupofinanceiro.blogspot.com/2009/01/evoluo-do-pib-per-capita-na-europa-1926.html)

·      “Metade dos portugueses acha que o país está pior que antes do 25 de Abril” (http://aeiou.expresso.pt/metade-dos-portugueses-acha-que-o-pais-esta-pior-que-antes-do-25-de-abril=f626638)

·      “Razões para a censura” (http://desmitos.blogspot.com/2011/02/razoes-para-censura.html)

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