domingo, março 06, 2011

Portugal na Encruzilhada (4/4)



Vi o último, o derradeiro, creio eu, “Plano Inclinado”(quem não o viu, pode vê-lo no “You Tube” - http://www.youtube.com/watch?v=bC1jp3wjmt0&feature=player_embedded - ou na página própria da Sic – http://sic.sapo.pt/programasInformacao/scripts/videoplayer.aspx?ch=plano-inclinado&videoId={BCA83B97-92CF-49E2-8E1B-EB51B7928B09}

 Algumas conclusões e ensinamentos podem-se extrair deste programa e que serão guia seguro para as nossas análises e para o futuro. Assim:

 a)  Tem de haver um grau mínimo de honestidade na política, ou seja certas verdades têm de ser ditas doa a quem doer. É no fundo o discurso Churchilliano do “sangue, suor e lágrimas” – não ganha  votos, mas é imprescindível num momento de crise grave. Nesta encruzilhada, o povo chegou a um ponto tal, em que está farto de mentiras e aceita as verdades, por mais duras que elas sejam. Mentir é pior. Revela-se totalmente contraproducente. Resta convencer Sócrates desta evidência.
b) O sistema pode e deve ser alterado. É difícil, mas é possível. Esta classe política tem de ser erradicada de vez. À direita, ao centro e à esquerda, é uma gente gasta, irreciclável e sem possibilidade de recuperação.
c) Os actuais partidos políticos não servem (nenhum deles).
d) Os partidos mais à esquerda (comunista e bloco de esquerda) utilizam um discurso anacrónico e ultrapassado, típico do século XIX. Se os partidos da alternância(PS, PSD, CDS) não servem, os da esquerda servem ainda menos.
e) O conceito marxista do centralismo democrático curiosamente é, hoje, apanágio dos partidos ditos de direita.
f) A maçonaria está em toda a parte e domina a vida política lusitana (à maçonaria poderíamos acrescentar os lóbis que são uma realidade incontornável e perigosíssima, desde o lóbi gay, à Opus Dei e aos lóbis económico-financeiros).
g) Os períodos de ordem nas contas públicas, de gestão eficiente e honesta foram os períodos ditos ditatoriais (o que confirma as teses já expendidas, neste mesmo blogue).

Conclusão:
Atingimos uma encruzilhada a que o Poder político (leia-se, toda a classe política conhecida, sem excepções), que dispõe de pouca (ou nenhuma) credibilidade, é incapaz de responder. A questão principal é o próprio regime. É este que está em causa e sem qualquer possibilidade de redenção. Podemos afirmar que o ciclo se esgotou.

A situação económico-financeira do país é gravíssima. Ninguém quer que nos venham ditar ordens na nossa própria casa, mas ao mostrarmo-nos incapazes de nos governarmos, de que outra sorte estamos à espera? Se a vinda do FMI é inevitável, porque é que estamos continuamente a encanar a perna à rã? Se não é, porque é que não o assumem de uma forma clara e sem ambiguidades? Este tem-te-não-caias é que não interessa a ninguém.
 A situação social atingiu os limites do suportável e está perigosamente a descarrilar em todos os sentidos. O empobrecimento galopante da população é um facto indesmentível. Estão à espera de quê? Que os descamisados desçam à rua? Que se assalte as Tulherias?

Estes miseráveis tiraram-nos tudo, inclusive a esperança. 

O sentimento de revolta é grande e assume dimensões perigosas. Que tremam os que estão no poleiro e os que pensam em para lá ir!

Mas, pergunto eu e a propósito da Mega-manif:

Vamos desfilar a 12 de Março, à rasca com os rascas e excluindo os que não são nem uma coisa, nem outra? Porque diabo é que fazem disto uma cruzada de um grupo, de uma geração? Vamos para a rua, como pretendem alguns para, de uma forma inorgânica e anárquica protestar, por protestar; protestar, porque estamos fartos e já não aguentamos mais?

E qual é o resultado prático?
Pode redundar tudo em águas de bacalhau e de nada serviu andar a desfilar para as câmaras  da RTP, SIC e TVI, o que, bem feitas as contas, é o cenário mais provável. Passadas duas semanas, ninguém sequer se lembra do que se passou, se é que se vai passar algo de relevante.
Pode, porem, começar a fervilhar alguma coisa, mas que, ninguém se iluda, será rapidamente aproveitada por todos os oportunistas de meia-tijela de que o nosso país é pródigo.

Maio de 68 serviu para alguma coisa? Que eu saiba para nada.
Na Rússia de 1917 aí, sim, serviu, mas foram os bolsheviks organizados que  se aproveitaram a seu favor do descontentamento popular russo.

O que é que queremos outra vez um Conselho da Revolução fardado ou os anarcas ao Poder?
Enquanto as coisas não estiverem maduras; enquanto não se vislumbrar pelo menos um embrião de organização e enquanto não se debaterem, com um mínimo de consistência, algumas ideias, não vale a pena ir em futebóis, pelo contrário saem-nos as contas completamente furadas.

 Temos de o fazer. É bom que as consciências despertem. Mas a hora ainda não chegou. É preciso que esta merda apodreça ainda mais e que emirjam verdadeiras alternativas.
Infelizmente, ainda não estamos lá...

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