terça-feira, março 15, 2011


Sócrates criou deliberadamente a crise

Valerá a pena governar, na actual conjuntura? Talvez não. O Poder pelo Poder já não será apetecível. Com efeito as circunstâncias não ajudam nada, mesmo nada. Vai daí e sem dar cavaco a ninguém, nem ao próprio Cavaco e lança-se o PEC 4. Vamos lá ver como reagem, sabendo-se, de antemão, que vão reagir mal. What did you expect? O dever de informar urbi et orbi passou a segundo plano, quando é uma questão essencial, em democracia e muito especialmente para um Governo minoritário, como é o caso. José Sócrates pode ter obtido uma licenciatura por caminhos ínvios, mas não é tonto: sabia exactamente o que ia acontecer. E aconteceu. Assim sendo, a crise é artificial. Foi provocada, para mais uma vez, num golpe de teatro duvidoso e reles, Sócrates dramatizar tudo e armar-se em vítima, no estilo eu-bem-queria-mas-estes-senhores-é-que-apostaram-no-caos, então vão à vida que eu vou à minha.
Nesta matéria, tanto quanto em apercebo, existem 3 teses:
(i)             a crise foi intencional e provocada pelo PM;
(ii)            a crise foi involuntária, mas deve-se à inabilidade do Chefe do Governo e, em parte, às suas mudanças de humor;
(iii)          a crise resulta de uma “combine” entre PR e Passos Coelho, em que o primeiro provoca e o segundo pega na “deixa”.
Para mim é evidente que a primeira tese é a que corresponde à verdade. A sociedade portuguesa chegou já ao ponto de ruptura. Muitos (entre os quais este vosso criado) anseiam não por um mudança de governantes, mas por um verdadeiro câmbio de regime, uma vez que este decididamente se esgotou e, por conseguinte não serve. A mega-manif. de Sábado ilustra isto mesmo e Sócrates sabe-o (aliás, já o sabia). Não informar PR, parceiros sociais, parlamento, os próprios Governo e partido. É deliberado ou involuntário? É involuntário quando pelo alínea c) do nr. 1 do artigo 201.º da Constituição da República
“(Competência dos membros do Governo)
1. Compete ao Primeiro-Ministro:
 c) Informar o Presidente da República acerca dos assuntos respeitantes à condução da política interna e externa do país»?
É involuntário quando a Oposição unanimemente condenou nos termos mais veementes o procedimento e o PM disse que submeteria o pacote ao Parlamento, sabendo antecipadamente e de fonte mais do que limpa que será chumbado?
Sócrates terá feito apenas um telefonema informativo para Passos Coelho, mas matéria desta importância e gravidade não teria de ser discutida e negociada antes?

A tese da inabilidade e das mudanças de humor (“amuos”) de Sócrates, bem como as suas vontadezinhas de pretenso régulo ibérico,  te-lo-ão levado involuntariamente a criar a crise, tese que é defendida por alguns, em especial por Marcelo Rebelo de Sousa, mas que, a meu ver, não pega. Este está, no fundo, a menorizar Sócrates fazendo-o mais burro do que realmente é. Ou seja, chega às seguintes conclusões: isto está tudo feito. Eu já combinei com o Barroso, com o Trichet e com a Merkel. Quem manda sou eu. Não tenho que dar satisfações a ninguém e muito menos a esse gajo que andou para aí a chatear-me. Eu não quero criar crises nenhumas, mas, porra, sou o PM da Tugalândia. Coelho que vá para a toca. Digam-me se isto tem alguma consistência ou se Sócrates é, de facto, estúpido?
A terceira tese é a do maquiavelismo político, de um pretenso “complot” à direita entre o PR e o Presidente do PSD. Cavaco desencadeia as hostilidades com o seu discurso de posse com uma mensagem subliminar bastante clara para toda a gente: tem a faca e o queijo na mão. Tudo isto vai mal. O Governo pode ir para a casa na primeira curva do caminho. Logo, atenção, muita atenção, ao que se segue. Passos Coelho aproveita a deixa,  é informado em cima da hora. Nada disto foi acertado, nem sequer falado. Bom, eis o pretexto: mata aí que eu esfolo depois. A tese é demasiado rebuscada para ser crível e os personagens são demasiado florentinos para serem verídicos.
Bom, resumindo e concluindo, a crise está criada, mas a solução não está à vista. Os velhos e obsoletos partidos políticos  vão movimentar-se, mas a sociedade civil, se estiver atenta, não deve perder esta oportunidade única. Isto agora tem de mudar a sério, chegou a hora. Yes, we can! Yes, we can! Yes, we can

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