sexta-feira, março 04, 2011

Portugal na encruzilhada (1/4)


Raras vezes menciono a política interna do rectângulo. Hoje é um desses dias e mais se seguirão, porque o tema é obsessivo, omnipresente e angustiante. Sim, fujo deliberadamente aos temas e objectivos anunciados deste blogue, mas não me posso calar. Não sou demagogo e o populismo arrepia-me. Porém, não tenho medo. Nunca tive. Chegámos ao ponto zero da política, ao nadir da esperança, ao fundo do poço sem água da nossa existência. Com esta gente não vamos lá. Com estes governantes não nos safamos. Com este bando de malfeitores o nosso destino é a merda, a merda pura e sem subterfúgios, a merda abrangente, putrefacta e cada vez mais abundante que caracteriza este país.  Produto de exportação que fabricamos facilmente e em quantidade mas que, como é óbvio, ninguém compra.
Fomos iludidos, ludibriados, traídos por este governo e por todos os que o precederam,  desde o 25 de Abril. Todos sabemos disso. Só que poucos se atrevem a dizer o que lhes vai na alma e não se atrevem a aventar soluções para sairmos do atoleiro. À boa maneira lusitana, resmungamos passivamente em voz baixa, de modo desorganizado e tonto, sem objectivos e sem “élan” vital. Nada, mas nada,  nos faz escapar deste estado geral de carneirismo ou de bovinidade em que vegetamos. Dizem que somos sonhadores, pouco realistas e pouco activos. Creio que não. Gostamos é de ser escravos. Vivemos bem com o chicote. Numa palavra, cantamos à meia-luz mais um faduncho da “desgraçadinha”, em que “ilusão” rima com “resignação”. 
Basta olharmos à nossa volta: na Grécia por falcatruas e aldrabices, que levaram o actual governo a apertar a tarracha até aos limites do suportável, o Povo já desceu à rua várias vezes para pintar a manta; em França, ao passar-se a idade da reforma dos 60 para os 62 anos, vai daí e parte-se a loiça. Em Portugal, timidamente não se faz nada ou quase nada e o pouquíssimo, que, às vezes, se chega a fazer, é quase sempre a pedir desculpa, envergonhadinhos e tristonhos – “Bom, tudo isto é uma maçada. Desculpem lá o mau jeito, mas tivemos de dizer alguma coisinha. Nós nem queremos fazer mal a ninguém”.
Temos de preconizar uma ruptura total, definitiva, imediata, já, um imperativo corte com o passado próximo.
Todavia, esse cesura não é seguramente a 12 de Março que a vamos concretizar. É apenas uma geração que se diz à rasca ou um país que vive há décadas à rasca e que não quer viver à rasca? Passámos da geração rasca para a geração à rasca e tudo isto se circunscreve a um problema geracional e de rasquice?
Não. Vivemos num país rasca e em que quase todos vivem à rasca. Esta é que é a verdade dos factos e todos nós sabemos disso. 

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