sábado, maio 08, 2010



A crise existencial da U.E. – Com o alastrar da crise grega a outros países, designadamente a Portugal, Espanha e Irlanda e com repercussões graves  noutros que não integram  a zona Euro, mas que gravitam na respectiva órbita, a Europa atravessa uma crise existencial, porventura a mais grave de todas. Não estamos a utilizar as palavras ao acaso, nem ao estilo de chavões monocórdicos,, repetitivos e estultos, que nada adiantam.
Quanto à crise económico-financeira propriamente dita, as iniciativas até agora tomadas pelos líderes europeus pecaram por tardias (dois meses e meio para resolver a crise grega!) e para pouco ou nada serviram perante o avanço galopante da doença e o pânico que suscitou - e suscita - por toda a parte.
Neste momento, o vírus pode contagiar os mercados asiáticos e norte-americano. Há quem diga que não, porquanto os casos apontados correspondem a economias demasiado pequenas (mesmo a espanhola) para poderem afectar os EUA, Japão e BRICs. Não partilhamos dessa opinião e nos últimos dias a bolsa de Nova Iorque, quer NYSE, quer NASDAQ, já sofreram plenamente os efeitos da crise.
O efeito de arrastamento, por irracional que possa parecer (as economias da Grécia, de Portugal, da Espanha e da Irlanda não são, de todo em todo,  comparáveis), está para ficar. O contágio é um facto. Interessa saber, para já, como sustê-lo, para em seguida se pensar em soluções de médio e longo prazos.
Existe um cisma Norte-Sul na U.E.? A resposta deve ser inequívoca: sim. É uma evidência e seria uma tontice dizer-se o contrário. São economias completamente dissemelhantes e sem pontos comuns, com regras diferentes, com problemas diferentes, que requerem soluções diferentes. Meter tudo dentro do mesmo saco foi um erro monumental. Nesse sentido, a Europa poderá recuar enquanto modelo de construção  e retrair-se a um “núcleo duro”, sob a batuta da Alemanha, fazendo desaparecer o Euro, ressurgindo as moedas nacionais, ou tornando-o apenas a moeda comum do “núcleo duro” (os 6 estados fundadores da União e, talvez, alguns apêndices). O esperado diktat alemão será esse e não outro. Nesse sentido e numa visão mais ampla, a U.E. continuaria a existir como uma vasta zona de comércio livre, um grande  mercado único, com algumas regras e alguns pontos de referência comuns e não mais do que isso
Podia pensar-se em reformular os critérios e equacionar-se uma política fiscal e orçamental comum coerente. Essa seria uma solução possível - a bóia de salvação para o Euro e, porque não dizê-lo, para a sobrevivência da própria Europa. Sem se dispor de uma política fiscal e orçamental comum, ter uma moeda única é um disparate  e os resultados estão à vista - verdade de La Palice. O problema é que ninguém quer optar por um tal caminho.
O Tratado de Lisboa -  com todas as dificuldades que surgiram no processo penoso das respectivas negociação e aprovação - , mais não foi do que um mínimo denominador comum, uma tímida tentativa para dar unidade ao que já estava desarticulado e que ficou muito aquém das expectativas.
Politica Europeia de Segurança e Defesa? Aqui entramos em pleno no reino da fantasia: Alice no País das Maravilhas! Pura e simplesmente não é possível e ninguém abdica das suas prerrogativas e dos seus interesses específicos, nestas matérias que tocam à soberania nacional de cada um. Estamos a perder tempo. Uma nova Bósnia (Deus nos livre, mas temos de a colocar como mera hipótese) dar-nos-ia a justa medida desta PESD que para nada serve.
A França e a Alemanha tem de decidir o que querem fazer porque a U.E. – e não apenas o Euro – caminha para o abismo e precisamos de soluções.

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