quinta-feira, maio 27, 2010


Cenários hipotéticos: a Polónia , mais uma vez, em sanduíche; a  Alemanha pós-U.E. e a opção russa (3/4) -  A nosso ver, o problema central gravita em torno do estatuto da Alemanha na Europa. A crise actual demonstrou, sem sombra para quaisquer dúvidas, que a Alemanha é o centro económico e gravitacional  da Europa e a crise demonstrou, igualmente, que as questões politicas e económicas são indissociáveis. Se Berlim não estiver de acordo, nada poderá ser feito. Se anuir tudo é possível. Nenhum outro país dispõe deste imenso poder, muito embora tenhamos tendência, quase sempre, a confiná-lo à esfera económica, o que não é inteiramente verdadeiro. A Alemanha é o motor e o decisor da Europa: por outras palavras, o problema central e sempiterno do nosso continente é a Alemanha.
Na sua qualidade de decisor, a Alemanha tem a capacidade para definir que politicas a Europa deve prosseguir como um todo.  Se a Europa se fragmentar,  então a Alemanha é o único pais com a capacidade para criar coligações alternativas com verdadeiro poder e coesão interna.
Vamos ser claros: se a U.E. se enfraquece, então a Alemanha terá a última palavra a dizer quanto ao destino da Europa. Neste preciso momento e na sequência da crise que  vivemos, a Alemanha está a tentar reformular a União Europeia e a eurozona, segundo o modelo que lhes é mais conveniente. Isto é absolutamente límpido. O resto é conversa fiada. Mas como um tal procedimento requer que muitos parceiros transfiram soberania para o controlo alemão – soberania que ciosamente conservaram através da implementação do processo europeu (i.e., o projecto transnacional coexistindo  com o estado-nação) – a Alemanha terá de procurar alternativas à União Europeia, quando se capacitar que o dito processo se esgotou.
Todavia, a Alemanha padece de limitações. O fulcro da questão reside no facto de Berlim, muito embora disponha de grandes poderes, não possuir o dom da omnipotência. Beneficia de amplos poderes na U.E. e presumivelmente será o único centro decisor no futuro, mas não pode fazer nada sozinha: a Alemanha necessita de uma coligação. A questão que se põe é a seguinte: numa  conjuntura previsível em que a União visivelmente se enfraquece ou implode (esta última hipótese  não pode ser ignorada) que alternativas poderão ser exploradas pela Alemanha?
A França constitui, via de regra, a resposta corriqueira e banal, à pergunta formulada. Todavia, historicamente, ambos os países viveram – e , de certo modo, ainda vivem - num ambiente de competição e de crispação. No seio da União Europeia estas tensões têm sido diluídas, uma vez que, quer Berlim, quer Paris possuem um interesse comum em gerir a Europa, de acordo com os seus interesses próprios, desde que não conflituem entre si ( o que é, por exemplo, visível, na actual crise) . A França e a Alemanha são mercados complementares, mas, por si só,  a França não constitui o fundamento para a estratégia económica alemã. Realce-se que a alternativa histórica para a Alemanha tem sido sempre a Rússia.

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