Cenários hipotéticos: a Polónia , mais uma vez, em sanduíche; a Alemanha pós-U.E. e a opção russa (1/4) - A questão “europeia” (permitam-me que a coloque entre aspas) parece ser hoje dominada pela omnipresente crise grega, pela consequente crise dos “PIIGS” ou, pelos riscos de contágio destas situações à boa saúde das finanças europeias. Falar de questões militares ou de defesa não só se afigura, à primeira vista, deslocado, como algo de absurdo ou, mesmo, de anacrónico. Todavia, estes problemas , sem honras de “cacha” de primeira página ou de abertura dos telejornais, continuam a estar na primeira linha das preocupações de muito boa gente.
Sem embargo do que se refere, é ocasião para se falar do anúncio dos EUA quanto à instalação de mísseis “Patriot” em território polaco. Quando Barack Obama, devido às intensas pressões russas, decidiu pôr termo ao famoso “escudo protector” (ou seja, a colocação de mísseis de longo alcance na Polónia e radares na República Checa), ideia do seu antecessor George W. Bush, os polacos mostraram-se profundamente decepcionados, daí a ulterior opção pela instalação dos “Patriot”, como compensação, tratando-se no caso em apreço de mísseis de curto e médio alcance. Esta solução permitirá à Polónia defender-se de idênticos mísseis balísticos de curto alcance e de ataques aéreos convencionais. Ora quem é o país que se sente visado com esta manobra? A Federação Russa. Muito embora, atento o estado actual das relações polaco-russas, consideremos que esta ameaça é meramente teórica e e apenas concebível em termos hipotéticos.
Por outras palavras, ao desistir do magno projecto de Bush, por pressão de Moscovo, os EUA instalaram um sistema tal que, ironicamente, pode afectar a Rússia, designadamente o enclave báltico de Kaliningrado.
Apesar de tudo, os russos vêem com a maior desconfiança estas questões tidas como meramente hipotéticas, pois podem transformar-se de um momento para o outro em realidades tangíveis e a história está cheia de tais exemplos. A potencial superioridade aérea estratégica da Polónia, sozinha ou acompanhada pelos países da NATO, é razão para a Rússia se sentir inquieta.
De momento, Moscovo pretende manter o melhor relacionamento possível com o Ocidente e beneficiar do know how e da tecnologia de ponta europeias. As preocupações da Europa e dos EUA são outras: a crise económico-financeira, para os primeiros, o Paquistão, o Irão e o Médio Oriente, para os segundos. Os russos têm carta branca para actuar, quase sem estorvos dignos de nota, no cordon sanitaire composto pelos estados da antiga URSS. Moscovo patenteia alguma satisfação com a crise europeia e, sobretudo, não quer que a U.E. caminhe no sentido de maiores integração e solidariedade dos respectivos membros, porque dilui o seu poderio e potencialidades.
Por conseguinte, a questão dos “Patriot” constitui um “irritante” e um problema militar hipotético, mas incómodo, para os russos, o que não significa que Moscovo esteja na disposição de ir terçar armas por esta causa.
Se a Polónia não é, de momento uma prioridade para os interesses de Washington, a instalação dos “Patriot” deve-se, apenas, à insistência polaca e não a qualquer desígnio estratégico norte-americano.
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