terça-feira, maio 18, 2010


Construção da Europa e egoísmo nacionalista 4/5

Existirá uma verdadeira  solidariedade intra-europeia? Isto é serão os povos da Europa, porque integrando um espaço comum e porque pertencendo ao mesmo “clube” (que nos perdoem a falta de rigor terminológico) solidários uns com os outros?  Se na Alemanha – e tratava-se do mesmo pais -, esta questão suscitou problemas complexos quando da reunificação, após a queda do muro de Berlim em 1989, não a nível da classe politica, obviamente, mas da população oeste-alemã, que não queria pagar mais impostos, nem sequer pela  unidade nacional, o que foi sintomático de um certo estado de espírito – é um tema  que está na ordem do dia e que a actual crise veio demonstrar que não tem solução, i.e. conjunturalmente podem, talvez, ser aplicados paliativos, mas não se resolve, estruturalmente,  a questão de fundo. Não obstante, em termos políticos, prevalece a percepção clara de que o destino da Alemanha,  enquanto país de novo reunificado, era o destino da Nação
Este raciocínio aplica-se mutatis mutandis aos restantes países  da Europa, em que os cidadãos identificam o seu destino e os seus objectivos comuns com o destino da Nação.
Para um português ou um sueco, o destino do seu pais é parte do seu próprio destino. Mas um português não é um sueco e vice-versa. Podem partilhar interesses comuns, mas não destinos, isto é não integram a mesma comunidade de destino. A Nação é a sede da tradição, dos usos, dos costumes, da língua e da cultura, da história comum, tudo o que, em suma, define, para o bem e para o mal, o que somos. A nação é o lugar onde uma crise económica é inevitavelmente parte da vida dos seus cidadãos..
Quando a crise financeira grega emergiu, os outros europeus formularam uma questão muito simples: “O que é que eu tenho a ver com tudo isto?” Na sua perspectiva própria, os gregos eram estrangeiros. Falavam uma língua diferente, tinham uma cultura diferente, partilhavam uma história diferente. Os alemães poderiam ser afectados pela crise – uma vez que os bancos germânicos detinham uma parte do passivo grego – mas os alemães não eram gregos e, por conseguinte, não partilhavam o destino grego. E esta visão, friso bem, não se limitava de modo algum à Alemanha, o motor económico da Europa.
 Resumindo e concluindo, o contributo para a solvência da Grécia não tem por desígnio a circunstância da Grécia ser parte da Europa, mas porque é no interesse da Europa solucionar a dívida grega. Logo, a pretensa solidariedade intra-europeu não é mais que uma mera ficção, porque a Grécia é um país estrangeiro.   

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