terça-feira, maio 18, 2010

Construção da Europa e egoísmo nacionalista 2/5

No seio da U.E., analisando a situação de cada pais de per se ou de cada sub-região individualmente considerada,  constata-se a existência de diferentes graus de desenvolvimento e de diferentes conceitos, não só acerca da Europa, em geral, como da própria U.E., em termos dos respectivos modelo, potencial e devir. Assim, em termos de desenvolvimento, os países meridionais contrastam com os países setentrionais e os do Oeste com os da Europa Central e Oriental.  Por outro lado, enquanto que o núcleo fundador (i.e., os 6 países que subscreveram  o Tratado de Roma), até há pouco, concebia, pelo menos a nível das elites, uma Europa “que caminhava para uma união cada vez mais estreita”, o R.U. e alguns países nórdicos não partilhavam de tal conceito ou, quando muito, aceitavam-no a contragosto. O conceito do “núcleo fundador” era aceite por um bom número de outros países. A questão principal residia no modo como transpor  tal conceito para o papel e fazê-lo aceitar pacificamente pelos demais. O RU e os seus aliados de circunstância sempre conceberam a União como uma vasta zona de comércio  livre e não mais do que isso. Ponto final.

As alterações estruturais porque passaram os países do Sul, nas últimas décadas, designadamente em termos do respectivo desenvolvimento económico e o próprio ritmo da mudança, conduziram a tensões de grau variável, situação substancialmente diferente da verificada na Europa Setentrional, em que esse processo teve lugar décadas antes  e em que a super-estrutura politica andou sensivelmente a par da evolução económica.
O mesmo processo está também a ter lugar na Europa Central e Oriental, ainda numa fase embrionária. Atente-se que os graus de desenvolvimento são muito diferentes (compare-se a Rep. Checa com a Roménia, por exemplo) e os problemas políticos revestem-se de grande  complexidade. Por um lado, algumas das tensões experimentadas a Sul são aqui idênticas; por outro, uma crispação permanente derivada dos velhos problemas das minorias étnicas, do anti-semitismo, do nacionalismo exacerbado e da contra-reacção de tipo fascista ou para-fascista, por outro, ainda, todo um processo de recuperação mal assimilado e amiúde incipiente de décadas de domínio soviético e das marcas, na prática, indeléveis do “socialismo real”.

Tradução: A Hungria não está à venda!
A diversidade de situações políticas, económicas e sociais na Europa dificulta, senão mesmo impossibilita, o projecto europeu, conducente a uma  “união mais estreita e mais íntima” , no entendimento (utópico) de que todas as nações poderiam ser integradas num único regime económico e que esse regime económico, num determinado estágio do respectivo desenvolvimento, conduzir-nos-ia  a uma entidade politica unificada, coerente e una. Em linhas gerais, este é o conceito fundamental do projecto europeu tal como foi delineado nos seus primórdios e como tem sido concebido, reponderado e reiterado ao longo dos últimos anos.
Genericamente falando, os europeus não se identificam como pertencendo a uma determinada região geográfica (Europa mediterrânica, Europa do Norte ou Europa Central), mas, sim, à sua própria nacionalidade (independentemente de outros considerandos,  esta é a referência primordial): afirma-se como sendo  espanhóis, gregos, polacos ou holandeses. Muitos vão mais longe e reconhecem que a nação a que pertencem não coincide com o estado em que se integram e neste caso: são catalães, bascos, lombardos, escoceses ou bretões. Este posicionamento tem que ver com a própria história europeia.
Antes do mais, os europeus tentaram sempre separar as suas próprias nações dos estados transnacionais, multi-étnicos e multi-religiosos, quer fossem opressivos (a maioria), benignos ou indiferentes, como foram os casos dos impérios austro-húngaro, otomano, russo, espanhol, numa primeira fase, ou nazi e soviético numa fase posterior, mais próxima de nós.
O estado-nação emerge com renovado vigor na sequência da Revolução Francesa e do romantismo até aos dias de hoje.
Não obstante, após as duas guerras mundiais que assolaram o continente europeu, os europeus, paradoxalmente, patentearam uma profunda desconfiança em relação aos sentimentos nacionais, porque estiveram nas causas profundas  dos grandes conflitos. Por outro lado, o nacionalismo era, igualmente, objecto de suspeição pelas guerras localizadas a que dava azo em que um determinado estado-nação se tentava impor aos demais e diluir as respectivas identidades nacionais.

Sem comentários: