quarta-feira, abril 28, 2010

A crise sem saída possível – Portugal está, neste momento, sob ataque cerrado e inevitavelmente não vai aguentar. A questão não é só essa: há um ataque concertado contra o Euro, liderado pelos EUA (o monopólio do dólar não pode ser quebrado), acompanhado em surdina pelo Reino Unido e com o beneplácito implícito dos BRICs, desta feita com brechas na muralha, por onde o inimigo se vai infiltrando. Portugal é apenas um dos elos mais fracos da cadeia e, por conseguinte, todos os movimentos especulativos aí se concentram para prosseguirem a sua rota em direcção a outros pontos sensíveis e mais apetitosos (em termos de lucros especulativos, entenda-se), como são os casos da Espanha, Irlanda e Itália. A queda da Grécia, em grande parte por sua própria culpa (manipulação de contas e de números, aldrabices, má gestão, corrupção, et alia), iria arrastar outros no pretendido desmoronar da casa “comum(?)” europeia. Portugal, que diverge, pela negativa, dos padrões europeus há mais de 10 anos, pequena economia estagnada, aberta e vulnerável,   é o alvo ideal para esse ataque e isso não tem tanto que ver com a dívida pública, mas sobretudo com a dívida global das empresas e dos particulares em correlação com o PIB lusitano.
 “While Portugal’s public debt of 77 percent of gross domestic product is on a par with that of France, the burden including corporate and household debt exceeds that of Greece and Italy, at 236 percent of GDP. The savings rate is the fourth-lowest among 27 members of the Organization of Economic Cooperation and Development, according to the Paris-based group’s data.”
Por outro lado, que ninguém se iluda acerca dos nossos parceiros que nos deixam cair na primeira curva do caminho, assim como estão a deixar cair os gregos. Antes do mais, temos de tomar em consideração duas questões fundamentais e contraditórias  na filosofia e praxis da União Europeia:
  1. Trata-se de um projecto politico e não económico ou financeiro. Os seus objectivos são claramente políticos – é esta uma das bases do Tratado de Lisboa. Consequentemente, tem de haver vontade politica para manter a Europa unida e com objectivos políticos inequivocamente definidos, nos quais se inclui, necessariamente, a solidariedade do próprio grupo. O problema não se pode pôr ao contrário: isto é, afirmar que se trata de uma união aduaneira ou de uma vasta zona de livre-câmbio, como sempre pretenderam os britânicos e os seus aliados de circunstância. Muito embora as etapas percorridas tenham sido essas, sem perder de vista o objectivo final.    
  2. Como dizia o antigo presidente da Comissão Europeia, Jacques Delores: “A União não é, hoje, mais que um mero somatório de egoísmos nacionais”


Entramos pois num universo de contradições, porque não enfrentamos de uma forma racional os problemas tal e qual se devem pôr. Neste sentido, compreende-se a posição da Alemanha (o projecto politico não lhe interessa e o que está sobre a mesa são os seus interesses específicos)
A este respeito atente-se o que refere Seixas da Costa no seu blogue “Duas ou Três  Coisas” (http://duas-ou-tres.blogspot.com/2010/04/portugal-e-crise.html

A Alemanha, que - convém que se diga - é a grande beneficiária da abertura do grande mercado europeu, parece demonstrar que não está disposta ao gesto, político e económico, de prestar garantias claras e inequívocas a esses parceiros - não obstante as fortes medidas de rigor que eles colocam em prática, com imensos custos sociais e políticos, sob a observação rigorosa das entidades internacionais.”


Ora, muito rapidamente, passemos a um episódio recente da história alemã que ilustra bem o que se diz: quando da reunificação e uma vez feitas as contas quanto ao respectivo custo que teria de ser pago pelos cidadãos da antiga Alemanha Ocidental, ninguém queria pagar e a polémica então gerada foi grande, grave e dolorosa. Por outras palavras, se não existe por parte dos alemães espírito de solidariedade intra-germânico, numa questão tão importante como foi a da reunificação nacional de uma pátria dividida há 44 anos, após uma Guerra dilacerante e brutal, seguida por  uma ocupação estrangeira (soviética), como é que pode haver solidariedade com os demais parceiros europeus?
Pergunta-se:
A Alemanha vai ajudar a Grécia? Até agora nada disse, o que é sintomático.
A Alemanha irá ajudar Portugal?
A Alemanha irá, se for caso disso, ajudar a Espanha, Irlanda, Itália ou qualquer outro?
Se não for a Alemanha, podemos contar com mais alguém? E terá(ão) capacidade para o fazer?
As respostas começam a clarificar-se nos nossos espíritos.
A Grécia e, posteriormente, Portugal vão ter que abanonar o Euro e voltar às respectivas moedas nacionais. A Alemanha das duas uma: ou cria um núcleo duro do Euro (que como se sabe assenta no conceito do marco alemão - os critérios de convergência foram impostos por Berlim) ou pura e simplesmente acaba com a moeda “única” (?) e reintroduz o marco.
Os americanos, britânicos e BRICs vão esfregar as mãos de contentes: a estratégia resultou.


Vamos efectuar um percurso até às origens: onde é que começou a crise? No sub-prime norte-americano, nos hedge funds, nos chamados produtos tóxicos. Depois de os ianques terem pago parte da factura em quem é que vai recair a conta final?
Voltaremos ao assunto. Até porque na Tugalândia ninguém se vai entender e, como é nosso hábito, com estes governantes e com a bela oposição de que dispõem, o entendimento será pouco mais que nulo. Logo, à partida, estamos condenados.

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