domingo, junho 20, 2010

Falecimento de José Saramago – Mudo e torno a mudar os canais da minha televisão por satélite e, à boa maneira lusitana, as imagens sucedem-se às imagens, os comentários aos comentários e, sobretudo, as loas às loas. É evidente que nestas loas post mortem não há muita hipocrisia: há um mar, ou, mesmo, um oceano de hipocrisia. Quantos não odiavam Saramago, como pessoa, como figura política e como escritor e que nesta hora vêm bater no peito, contristados, pela morte do único prémio Nobel integral que Portugal jamais teve (o prof. Egas Moniz partilhou o Nobel da medicina com outro colega de ofício).
Sou meridianamente franco:  nunca apreciei Saramago como escritor, embora lhe reconhecesse talento, imaginação e criatividade. Sempre considerei o seu estilo detestável, presunçoso,  irritante e, sobretudo, chato. Estou no meu pleníssimo direito de não gostar. Não gosto e assumo, como sempre o fiz. Teve algumas ideias brilhantes, sem dúvida alguma, mas, em minha opinião, o balanço geral é negativo, independentemente de ter ganho ou não o prémio Nobel (como se sabe, trata-se, hoje, de uma atribuição meramente política e que não tem nada que ver com méritos objectivos – quantos não mereceriam o galardão e jamais o obtiveram?). Mas, adiante. He’s not definitely my cup o’tea. Conheci pessoalmente o falecido, mas nunca simpatizei com a personagem, isto no que toca às suas qualidades humanas e não às respectivas ideias políticas (com as quais estou e sempre estive a 180º de distância). Era uma pessoa arrogante, desnecessariamente controversa, provocadora mesmo, pouco cortês e, para quem provinha do meio humilde da Azinhaga do Ribatejo, patenteava uma exigência absurda em matéria de pequenos luxos verdadeiramente assombrosa (hotéis, restaurantes, aviões, etc.) e desconforme aos princípios políticos que professava.
Depois e acima de tudo, enquadrava-se bem na onda de fundo  do pensamento lusitano
em sintonia com o seu pessimismo derrotista que, por vezes, roçava o nihilismo. A meu ver, tratava-se do expoente máximo do nosso fado luso em versão livresca.
Telecomandado, como sempre, pela inefável Pilar del Rio, a quem obedecia cegamente e que muito o influenciou, muito haveria a dizer sobre o seu iberismo – mais um ponto da minha frontal discordância em relação à personagem, apesar de ser muito amigo da Espanha e dos espanhóis -  mas fica para outra ocasião.
Podem mandar-me calar – e a muitos outros, discordantes como eu destas hiper-homenagens de última hora a esta figura da literatura contemporânea - com o argumento de que o mundo já o consagrou, por conseguinte, podem pensar mal dele o que quiserem e que isso não aquece nem arrefece. Por outras palavras: os cães ladram, mas a caravana passa. Todavia, poderia apresentar-vos ao longo da história da literatura, da música, da ciência e das artes, n exemplos de consagrados que o foram sem o merecerem e de n elevado a n de outros que nunca subiram ao pódio e que deviam beneficiar de tal distinção. Todos sabemos  que isto é inteiramente verdadeiro!
 Não, não vou por aqui – como dizia o saudoso José Régio. Permito-me reiterar o que já referi: não sou hipócrita, não gosto, nem vou gostar, também não homenageio, nem me vou alongar muito mais sobre este assunto.
Sic tibi terra levis!

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