quinta-feira, maio 05, 2011


Da suspensão do movimento diplomático



A suspensão do movimento diplomático normal trata-se de um acto atrabiliário e profundamente errado (para não o qualificar de outra forma) do Mal Amado, uma vez que se insere na gestão dos assuntos correntes e em nada ultrapassa as competências de um governo demissionário. O preenchimento dos 18 postos vagos para as categorias de Conselheiro e de Secretário de Embaixada não deixa de ser um acto de mera rotina, sem qualquer significado político (se fossem chefias de missão, outro galo, certamente, cantaria, mas, no caso vertente, francamente,...). Envolve despesas, é certo, mas gastos já previstos e perfeitamente enquadráveis no orçamento corrente. Nada do que se podia propor envolve encargos extraordinários ou incomportáveis no âmbito das rubricas orçamentais do MNE. Por conseguinte, a decisão do Ministro é intencional, na esteira da estratégia do quanto pior melhor e eu-de-certeza-não-estarei-cá-para-ver-o-que-se-segue. Com efeito, o “Cabeleira ao Vento” sabia que devia proceder a um movimento diplomático normal, mesmo que fosse minimalista – e a proposta do Secretário-Geral era um minimum minimorum. Não o fez porque não quis. Ponto final.
Abrir a embaixada no Abu Dhabi, numa altura destas, é que nos parece uma péssima medida, com reflexos orçamentais pesados, que a ninguém interessa e que não resolve nenhum problema da nossa política externa. Além do mais, dá um sinal errado para o exterior e sobretudo para opinião pública lusitana, de que, apesar da austeridade reinante, afinal sempre há dinheiro para algumas coisas. Mas o Ministro é que decide as prioridades e quando se devem ou não deitar foguetes.
Mas há mais. Dos 18 postos a preencher (ou seja, 15 embaixadas, a saber: Abuja, Belgrado, Bissau, Cairo, Camberra, Caracas, Estocolmo, Havana, Jacarta, Kinshasa, Maputo, Nairobi, Teerão, Tripoli e Washington, mais 3 consulados gerais, Caracas, Sydney e  Zurique), maioria situam-se em países do Terceiro Mundo (são os chamados postos “C”), cujo preenchimento é imperativo para o bom funcionamento da máquina e para os interesses de Portugal no mundo.  Por outro lado, esses postos, de grande desgaste físico e psicológico, implicam uma rotação regular, perfeitamente justificável, que não se compadece com as mudanças de humor do patrão.
Finalmente, este último não sabe que há prazos e regras processuais a cumprir ou ainda não aprendeu nada com os vários estágios que teve, ao longo dos anos, nas Necessidades?
Como nota de roda-pé, é deveras interessante este sacudir a água do capote e passar a bola para o próximo governo. Fica-lhe bem...

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