quinta-feira, janeiro 27, 2011

A política externa de Dilma Rousseff


Vou tentar ser tão objectivo quanto possível. 
A novel presidente do Brasil (e não presidenta - que eu saiba ela não é resistenta, nem antiga combatenta)  vai ter que delinear a sua política exterior dando seguimento às linhas traçadas por Lula. Aqui não vai certamente haver grande inovação, nem mudança detectável O Brasil incha o peito de ar porque já está no grupo dos grandes. Todavia, tem de saber entrar no jogo e isto não é futebol no Maracanã, nem tem Ronaldinho Gaúcho para marcar golos.
Já Celso Lafer no “Estadão” (“Estado de São Paulo” de 18 de Setembro de 2010) referia que “O Brasil não enfrenta problemas de segurança de envergadura, como países do Oriente Médio ou da Ásia, que estão mais próximos dos riscos da situação-limite paz/guerra. Por isso, pode considerar o desafio do desenvolvimento nacional, na sua abrangente sustentabilidade - econômica, social, política, ambiental, de inovação e conhecimento -, como sua grande necessidade interna. Cabe lidar bem com esse desafio, que significa ampliar o poder de controle da sociedade brasileira sobre o seu próprio destino, numa era de globalização, na qual o mundo se internaliza na vida dos países, inclusive no capítulo dos riscos (por exemplo, tráfico de drogas, crises econômicas, mudanças climáticas).” Contudo, para alcançar o desejado objectivo do desenvolvimento (apesar dos índices e do crescimento verificado, o Brasil ainda possui muitas características terceiro-mundistas) a classe política e, neste caso, a Presidente têm de compreender bem a extrema complexidade do mundo em que vivemos. Olhar para o umbigo, não basta. Lafer sublinha: “A minha crítica à diplomacia lulista é dupla. Entendo que, com consequências negativas para o País, não definiu apropriadamente as necessidades internas e não avaliou corretamente as possibilidades externas.” Dilma prosseguindo nesta esteira não irá longe e o Brasil poderá perder a oportunidade única que se lhe oferece. Presumivelmente, vamos ter com alguns matizes, uma diplomacia oca, que se vê ao espelho e que se sente encantada com o que vê, mas o que não verá, certamente, são resultados concretos.
Esta política, em larga medida, de sobre-estima e de vaidade partidariza a administração pública e coloca-a ao serviço da nova presidente, como já esteve ao serviço pessoal de Lula. A abertura indiscriminada e sem critério discernível de novas embaixadas e consulados, à laia de grande potência para nada serve, se não se processar em nome de uma politica e em prol de uma estratégia (O Brasil tem embaixadas em todos os países das Américas, sem excepção, incluindo as ilhas das Caraíbas que têm de ser descobertas no mapa-mundi com a ajuda de uma lupa).  O mesmo se aplica mutatis mutandis à abertura de vagas em profusão para ingresso na carreira diplomática.
No período de Lula da Silva, o  Brasil sobre-estimou-se nos casos do Irão e das Honduras, mas, em contrapartida,  sub-estimou-se nas questões ambientais (onde é líder), na defesa dos direitos humanos e,\ na falta de dinamização dada ao Mercosul.
Lafer conclui: “A diplomacia lulista, em razão dos equívocos acima apontados, vem descapitalizando de maneira crescente o soft power da credibilidade internacional do Brasil, comprometendo, desse modo, o próprio prestígio do País. Esta situação vem sendo agravada pelo empenho do presidente em construir amigas parcerias com regimes permeados pela iniquidade do arbítrio (por exemplo, o Irã de Ahmadinejad). A continuidade desta diplomacia é indesejável. Não contribuirá para a sustentabilidade da ação externa brasileira num cenário que se avizinha como mais complexo, seja no contexto das tensões da nossa vizinhança, seja no campo multilateral, seja no jogo das grandes potências, no qual despontam as novas parcerias da China e da Índia com os EUA.”
Mas será que a política externa de Dilma será, realmente, uma evolução na continuidade?
Para Bárbara Ladeia (Brasil Económico), para além do prestígio que o Brasil beneficia como potência emergente e a que, naturalmente, será dado seguimento, Dilma diverge de Lula em relação ao Irão, porque, em seu entender, devia condenar o regime de Teerão por violações dos direitos humanos. Mas será que, na mesma linha, vai condenar Chavez e outros ou a solidariedade revolucionária vai falar mais forte e não terá outro remédio senão calar a boquinha?  
Por outro lado, ao substituir Celso Amorim por António Patriota, Dilma vai procurar controlar ao milímetro a politica externa e o Itamaraty. Aí não sobram quaisquer dúvidas. 
Noutro âmbito a parceria Sul-Sul - e aqui vêm ao de cima os temas da agenda pessoal de Dilma - vai constituir uma das grandes prioridades deste governo.
Mais preocupante – neste particular, surgem diferenças em relação ao anterior mandatário – é a atitude proteccionista em matéria de comércio externo ao arrepio das tendências planetárias, que Dilma Rousseff vai querer defender. Com efeito, como noticia o “Portugal Digital”:   "Técnicos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (do Brasil) examinam alternativas, como a imposição de barreiras tarifárias para conter importações consideradas prejudiciais para alguns setores da produção nacional. 

(...)O objetivo é recuperar a balança comercial positiva em relação a maior parte dos parceiros econômicos do Brasil.
(...)A lista de produtos sujeitos a essas restrições ainda não foi concluída, mas a ideia é priorizar as mercadorias que têm similares produzidos no Brasil ou que têm condições de serem fabricados no país".
Quais são os rumos possíveis da política exterior brasileira? Vejamos:
a)   O Brasil vai-se voltar para a Ásia, para além da China e Índia, também para a Indonésia, Malásia, Tailândia e Coreia.
b)   A América Latina, um Mercado em expansão e onde o Brasil dispõe de grandes trunfos – trata-se de uma orientação tradicional e que não diverge a seguida no passado próximo.
c)   África – uma actuação em vários azimutes dando, porém, prioridade às relações comerciais com a África do Sul, Angola e Nigéria.
d)   Europa já não figura na primeirissíma linha, mas  o relcionamento é, ainda, tido por relevante sobretudo em função da U.E. e dos principais países que a integram
e)   Meio-ambiente – trata-se de um sector fundamental, negligenciado por Lula e onde o Brasil pode e deve desempenhar um papel  de primeiro plano.
Os próximos encontros de A. Patriota em Davos com os seus homólogos da China, Índia, África do Sul, Austrália, Reino Unido, Suíça. Alemanha, União Europeia e EUA dão bem conta das orientações de Dilma em política externa.
A programada visita de Obama ao Brasil em Março, tal como anunciada no discurso do estado da União, “para forjar novas alianças para o progresso das Américas”, constitui uma aproximação aos EUA e culminará no branqueamento total de Dilma Rousseff. Assim são as coisas!
E as relações com Portugal e com a CPLP? Obviamente, secundárias, meu caro Watson, secundárias.

1 comentário:

Anónimo disse...

Secundárias, não, terciárias e senão fosse Angola seriam quaternárias.