domingo, janeiro 16, 2011


As "bichas", a morte de um capitão abrilino e a crise

O tema de hoje, como já o disse uma vez, não é do meu agrado e é com relutância que o vou referir. Não era, nem sou admirador do Vítor Alves. À semelhança de muito boa gente, estou saturado, perturbado e enjoado com essa história dramática, descabelada e nojenta  do crime passional entre homossexuais que aumentou a tiragem de jornais e revistas em época de crise e que aumentou o "share" das audiências  televisivas. Não, também não escrevi para as páginas webs dos jornais, para o facebook e para um chat qualquer-coisa-espera-aí-que-ainda-não-disse-tudo com comentários homofóbicos. O caso não merecia, nem merece tanta atenção. Tão pouco a morte de Vítor Alves - segundo me dizem, um "calmo" capitão abrilino, talvez porque os outros fossem nervosos. Seriam, mesmo? - mereceria grandes referências. Aliás, o 25 de Abril não quer dizer rigorosamente coisa alguma às gerações actuais que quando interrogadas sobre quem foi o Otelo Saraiva de Carvalho, respondem que  é um hotel de 4 estrelas (sic)!!!! Tenho isso documentado em vídeo. 
Mas adiante. Os lusitanos estão-se a afastar do essencial que é demasiado para a sua débil compreensão. E o essencial chama-se crise. Talvez por demais complexa, abrangente, desestabilizadora, condicionante, cruel. Então distrai-se a atenção do povão com histórias de mariquinhas pés de salsa com desfechos hollywoodescos à Quentin Tarantino. 
É um povo de uma passividade bovina que nem sequer pensa,  se preocupa ou protesta com o facto de termos o leque salarial mais amplo da Europa; do crescimento do nosso PIB ser igual ou próximo de zero,  de há mais de 12 anos a esta parte; dos baixíssimos salários e das pensões terceiro-mundistas que aufere quase toda a população; sobrecarregado com uma carga fiscal insustentável, enquanto as empresas do Estado -que, no fundo, são suas - distribuem bonificações e benesses até dizer chega, com ou sem crise; quando milhares de milhões se evaporam como roupa ao vento em dia de Verão com nortada. Querem que continue, ou, por agora, chega?
Nada disto é importante. O que é importante é o Carlos Castro (para uns, asqueroso, para outros, um paizinho) e o Renato Seabra (para uns, criminoso, para outros, um coitadinho). O caso é de compreensão relativamente simples (não implica grandes raciocínios, nem cultura, além disso o tipo até confessou) e permite alguma especulação.
Pobre povo que tens o que mereces!
 Vimos o que foram as greves na Grécia e em França, uns protestavam porque alguém os aldrabou nas contas, os outros porque não queriam que lhes subissem a idade da reforma, mas, na Tugalândia, na greve dita geral   nem se partiu um copo. "Então o que me diz a senhora neste dia de greve geral?", pergunta uma das estagiárias da RTP. "Olhe, sabe, como não há comboios, não posso chegar ao emprego. Vou para casa.", responde a cidadã.
Estamos a viver a crise mais grave das nossas vidas e provavelmente a maior de que há memória. Uma crise que implica uma mudança do eixo do mundo, uma mutação de civilização,  uma metamorfose da cultura, mas o importante é preocuparmo-nos com uma crime passional entre bichonas ou de sabermos se esse fait-divers é mais ou menos importante que a morte do Vítor Alves..
Olha, não sei se vem a propósito, mas, hoje, amanheceu enevoado. Damos as boas vindas a Sua Majestade, El-rei D. Sebastião!     
            

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