Dilma Rousseff – parte III (facts are facts, comments are free)
Imensamente popular, com um palmarés impressionante de realizações, a contrastar com o cinzentismo apagado do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso e constitucionalmente impedido de se recandidatar, Lula da Silva catapulta uma factotum para a cadeira do Poder (neste caso mulher – sim, eu sei que não há concordância, perdoe-se-me o meu latim super-enferrujado, que ainda o aprendi nos bancos da escola, já lá vão alguns anos), tendo na mira as próximas presidenciais, que poderá ganhar com facilidade. Sem embargo do que fica dito, para além deste score notável, não me parece avisado, agora, discorrer sobre os seus erros e dislates, porque os houve e muitos e o tempo e espaço que nos restam são curtos. A escolha de Dilma afigura-se-nos um erro de palmatória e muito grave, por duas razões: por um lado, as dissensões entre os partidos de esquerda PT e PMDB são públicas, notórias e perigosas, pondo em risco a unidade, coesão e boa ordem da governação brasileira (uma potencia emergente); por outro, compreendem-se bem as intenções e a estratégia de Lula, só que a opção em quem recaiu é profundamente errada, porque a pessoa em causa não é, nem pode ser de confiança.
Vejamos porquê:
Em Abril de 2009, um ex-guerrilheiro afirmava à “Folha de São Paulo”, declarações depois reproduzidas pelo jornal “Globo” que Dilma era “uma das integrantes do grupo que em 1969, planejou o sequestro do então ministro da Fazenda , Delfim Netto. Na edição deste domingo do jornal “Folha de São Paulo”, que já circula na capital paulista, o ex-comdante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e da Vanguarda Armada Revolucionária Palmaraes (VAR-Palmares), António Roberto Espinosa atualmente doutorando em Relações Internacionais da USP, diz que Dilma e outros quatro integrantes do grupo concordaram com o sequestro, que não foi executado ‘porque os principais envolvidos na ação começaram a ser presos semanas antes’, diz a reportagem.
‘O grupo foi informado. Os cinco (ele, Dilma e três dirigentes da VAR) sabiam,’ disse Espinosa à Folha” [O Globo de 04/04/2009].
No são espírito cristão muitos descupabilizam tudo e abrem-se os braços a conversos, filhos pródigos e ovelhas ronhosas que regressam ao redil. Os ex-qualquer coisa são particularmente bem-vindos e quanto mais alto subiram na escala social, na carreira politica ou no mundo dos negócios melhor acolhidos são.
“Mas há, evidentemente, quem considere o óbvio: as organizações a que Dilma pertenceu eram terroristas.” – Revista “Veja”, de 17.05.2010, blogue de Rinaldo Azevedo
Segundo a revista em apreço, o actual deputado Gabeira ou Dilma teriam sido os escolhidos para assassinarem o embaixador americano. Mesmo não tendo sido ela, subsitem dúvidas sobre a sua responsabilidade, pelo menos, moral em tudo isto ou, à boa maneira lusitana, passa-se uma “esponja sobre o assunto”? Quando se atinge esta escala de importância – Presidenta da República – tudo o mais se esquece.
Pode-se argumentar que quem nos EUA a proibiu de lá pôr os pés, hoje, estará, porventura, encarregado de estender-lhe a passadeira vermelha e o raminho de flores. Assim vai o mundo.
Ponderemos um pouco no que diz Rinaldo Azevedo, no blogue citado, alias um dos mais famosos do Brasil:
“O que contesto, aí com veemência, é que ela [Dilma Rousseff], no passado, tenha lutado ‘pela democracia e pela liberdade’ quando estava no Colina ou na VAR-Palmares. Contesto porque é mentira. A menos que alguém me traga alguma evidência de que essas duas organizações queriam democracia.
É uma questão de apreço pela história. O fato de as duas organizações terem praticado atentados terroristas — e praticaram — e matado inocentes — e mataram — não torna a ditadura militar melhor. De jeito nenhum! Também não justifica o crime asqueroso dos torturadores. De jeito nenhum! E os crimes da ditadura não transformam o Colina e a VAR-Palmares melhores do que eram: organizações leninistas, de caráter terroristas, cujo objetivo era, por intermédio da luta armada, instaurar no país uma ditadura comunista.”
Será que tudo isto foi cabalmente desmentido, beyond the shadow of a doubt?
(solicito a vossa indulgência para esta incursão na terminologia anglo-saxónica)
Valerá a pena pôr mais na carta?
Pois bem, desconfiar, desconfiarei sempre.
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