quinta-feira, julho 07, 2011


Moody’s corta “rating” de Portugal



São muitas as vozes indignadas contra a desclassificação de Portugal, dos seus bancos, das suas empresas, regiões e municípios. Somos agora lixo, lixo genuíno, lixo autêntico, lixo puro, mal cheiroso e poluente, sem apelo nem agravo. Nem Nossa Senhora de Fátima, os anjos, arcanjos, querubins e serafins nos podem valer. Neste embate de titãs entre a Europa e a América somos o chamado collateral damage, ou seja os danos fortuitos duma guerra que não é nossa, mas que passou a ser. Não se é soldado de infantaria na linha da frente ou peão no tabuleiro de xadrez por mero acaso. Estamos lá, porque assim o quisemos. Estamos lá porque nos pusemos a jeito. Estamos lá porque fomos desgovernados da maneira infame em que o fomos, pelos mesmos vigaristas de sempre. Mas, meus amigos, digam-me lá, a verdade verdadinha, não estávamos mesmo à espera disto?
Ou será que toda a gente pensava que com um novo Governo, com o chamado vasto consenso dos partidos democráticos, com o apoio generalizado do triste, pobre e macambúzio “bom Povo Português”, com promessas de meninos bem comportados, com um apertar de cinto ainda mais ajustado do que nos era pedido, nos íamos safar?
Há quem critique a inoportunidade do anúncio da Moody’s a que se seguirão inevitavelmente os das outras duas agências – a Standard and Poors e a Fitch – no mesmo sentido e que, por certo, não irão tardar. Haveria, dizem, que dar tempo ao tempo e esperar que as medidas tomadas por este Governo surtissem ou não efeito. Sim e depois, com certeza, podiam dizer de sua justiça... Diga-se, de passagem, que numa guerra, não se escolhe o timing que convém ao inimigo, mas o que convém aos nossos interesses. É uma verdade de La Palice.
No combate para a supremacia mundial, de que a batalha euro-dólar é apenas um episódio entre muitos, a  estratégia de Wall Street consistiu – e isto é bastante claro para toda a gente – em rebentar com a periferia da Europa, até porque existiam (e existem) manifestas vulnerabilidades nesses países ditos PIGS ou PIIGGS que facilitam a ofensiva.
E depois há um problema de timing a Europa tem de cair rapidamente antes dos EUA baquearem de vez, o que se prevê para o Outono, ou mesmo antes. Todos sabemos disso ou temos, pelo menos, consciência dessa forte possibilidade.
Para o efeito, os EUA têm um forte e indefectível aliado na Europa. You know what I am talking about. O cavalo de Tróia chama-se Reino Unido – um país que pouco ou nada produz e que vive, essencialmente, da especulação financeira da City de Londres – passem de largo os exageros, com as minhas reiteradas desculpas aos anglófilos! Todavia, estas previsões podem falhar ou poderão surgir factores supervenientes, que por ora não se podem ler nas cartas e que poderão alterar esta futurologia bloguista. Mas pelo andar da carruagem  creio que não estamos muito longe da verdade.
O krach de 1929  não foi um mero acidente de percurso, nem se circunscreveu a meia-dúzia de anos. Seguiu-se a Grande Depressão, a emergência dos totalitarismos na Europa e depois a II Guerra. A retoma plena, note-se bem, só se deu em 1954. Isto são factos históricos indesemntíveis.
O meltdown de 2008 que os EUA resolveram à sua maneira, injectando mais dinheiro no mercado (more, more and always more) salvando uns e não outros, não se descortinando critérios, nem se atinando com qualquer lógica de fundo, num universo de total desregramento, que é o que agrada à City e a Wall Street. Depois passámos à crise da dívida soberana.  Não ignoramos que exista, mas a verdadeira luta é outra, como sabemos. A procissão, porém, ainda vai no adro. E preparamo-nos para o estouro final: quem rebenta primeiro a Europa ou os EUA? E quando é que vêm os chineses ou os indianos apanhar os cacos?


Bom, mudemos de assunto, relativamente ao título deste “post”, impõe-se uma pergunta:
Que fazer?
Correm na net várias hipóteses. Para já circula um abaixo assinado relativamente às agências de “rating”, denunciando as suas práticas, a sua actuação e, sobretudo, a sua estratégia, nem sempre clara. Outra consiste em  tentar bloquear a página Web da Moody’s através de um ataque em ordem, programado para segunda-feira, à hora de abertura do New York Stock Exchange.
Recebi inúmera correspondência a este respeito, que vou partilhar com os meus leitores, sintetizando-a:-
-       Bandidos bandidos mesmo foram os sucessivos governos que puseram Portugal neste estado. Agora dão tiros no mensageiro...tão inocentes que nós somos.”
-       “This is just business. Estamos no meio duma guerra sem termos exército nem sequer armas para nos defendermos. Deus nos valha.”
-       A propósito do pretendido bloqueio informático à Moody’s: “E o que farão os alemães? Mandarão bombas para cima da Moody´s enquanto nós lhes entupimos os computadores?”
-       “Será que teremos direito à indignação? As agências de “rating”, sobretudo quando analisam países meridionais, têm de ter em atenção que aí predominam trapaceiros, vigaristas e irresponsáveis. Portugal e os portugueses deviam ter vivido dentro dos sãos princípios das suas possibilidades, nos parâmetros da filosofia do velho “Botas”, se o tivéssemos feito, isto não acontecia. Mas esses politico-politiqueiros, na sua contumaz aldrabice tentaram convencer-nos – e em parte conseguiram (pobre povo!) – de que entrar para Europa era chegar à terra prometida, onde corria o leite e o mel. Vivemos à grande e à francesa com dinheiro dos outros e, no fim, a Europa pagaria a conta. Ora, não existem almoços grátis e a factura temos mesmo de a pagar.”


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