terça-feira, fevereiro 01, 2011


Egipto: pirâmides sem sombra


Para os EUA, para o Ocidente em geral e, principalmente, para Israel, o status quo vigente até há umas semanas atrás é sempre preferível a este estado de agitação e de instabilidade permanentes sem rumo determinado. O problema principal consiste, pois, na imprevisibilidade, uma vez que pode – e naturalmente vai – emergir uma situação complexa e desconhecida. De momento os acontecimentos que se sucedem em catadupa parecem conduzir a uma conjuntura caracterizada pela  fluidez.
Com efeito, no Egipto, o regime sempre foi militar. Nasser, Sadat e Mubarak vieram todos eles das fileiras. Qualquer deles esteve no poder porque a classe castrense egípcia assim entendeu que devia ser. As mudanças introduzidas por Mubarak, vão no sentido de dar ainda mais força às Forças Armadas: os novos Vice-presidente e PM são militares.
Mas quais são ou podem ser os cenários futuros?
Antes do mais, o regime pode reinventar-se a si próprio. Retira algumas cartas do baralho e prossegue com outras cartas o mesmo jogo, introduzindo algumas alterações cosméticas, podendo-o fazer com Mubarak ou, em alternativa, com uma outra figura militar. Num segundo cenário, realizam-se eleições com resultados inconclusivos forçando a uma coligação que, muito presumivelmente, só será possível com a  Irmandade Muçulmana, a principal (senão, mesmo, a única) força política organizada do pais. Aí, o Egipto entra por uma via de radicalização acelerada e tudo pode acontecer. Uma aliança com o mundo islâmico anti-ocidental e anti-Israel é perfeitamente possível. Esta radicalização do Egipto, dada a sua dimensão regional, conduzirá a uma radicalização de todo o mundo islâmico ( e neste caso, o afastamento da Turquia do campo ocidental, já visível e a sua aproximação ao Egipto é uma mera hipótese, porém, plausível e preocupante). Num terceiro cenário, a criação de um estado laico, reclamada por algumas elites, é, por ora, altamente improvável, porque depararia com a oposição firme da rua.
Assim, o triângulo Egipto-Turquia-Irão, em que cada um dos vértices apresenta características próprias  que as distinguem dos demais poderá conduzir, mas não necessariamente , a uma onda de radicalismo. Nesta matéria, quaisquer previsões são prematuras.
Independentemente da solução encontrada o Egipto vai-se afirmar face aos EUA e a Israel e esse é um dado praticamente adquirido, o que não quer dizer que irá denunciar os acordos de Camp David (1978).
Alguns apontamentos
É estranho que a U.E. venha, agora, reclamar, “eleições livres e justas” no Egipto, ao fim destes anos todos. Então porque não as reclamou antes? Não reclamou antes porque a situação então vigente era confortável e não convinha levantar ondas. O Egipto não era um regime opressivo e que não respeitava os direitos humanos? Opressivo, opressivo, havia bem pior...E os princípios? Bom... os princípios são isso mesmo. Variam consoante a latitude... Não vale a pena falar mais no assunto.
E El Baradei e o seu papel no meio de tudo isto? No fundo, é uma espécie de Gorbachov egípcio, conhecido e estimado além fronteiras e ignorado ou odiado intra-muros. Não terá grande relevância no processo interno do país sem respaldo militar consistente, sendo duvidoso que o consiga obter.
A fúria do regime (e dos militares) contra os media internacionais, como fautores de todos os problemas que o Egipto padece é um péssimo sinal. Daí o encerrar-se a Internet e a rede móvel, como se fosse possível isolar um país de 80 milhões de habitantes do mundo exterior, ao abrigo de alegados vírus perigosos que andam por aí à solta e que são a razão de todos os males. Registe-se que se é  o regime que manda  encerrar, os  militares mantém a interdição. Está tudo dito.    

Sem comentários: