Crise na Costa do Marfim – Painel de Chefes de Estado
(transcrição com a devida vénia do semanário “Angolense”, de 5 de Fevereiro)
Após acesas discussões, e por entre um lobby intenso das duas «facções» e dos países seus apoiantes, o Conselho de Paz e Segurança da UA decidiu estabelecer um painel especial de Chefes de Estado que deverão «num prazo de não mais de 30 dias» encontrar uma solução de cumprimento obrigatório para todos os ivoirienses.
O Conselho – composto por Jonathan Goodluck (Nigéria), Robert Mugabe (Zimbabwe), Jacob Zuma (África do Sul) e Hihikepunye Pohamba (Namíbia), sendo os últimos quatro aliados do Presidente dos Santos – decidiu que o painel deverá ter um representante de cada uma das 5 regiões do continente (Magrebe, África Ocidental, África Oriental e África Austral) e apoiada por uma equipa de peritos, que envidará todos os esforços diplomáticos e políticos no sentido de encontrar «uma solução negociada e pacífica que ponha em primeiro lugar os interesses do povo ivoiriense».
Caso para dizer que dos três eixos propostos por Angola, dois já foram alcançados: O descartamento do uso da força e «a solução africana para um problema africano». O que não está claro é como fica a situação da Presidência da República: «Presidente Constitucional» Gbagbo ou «Presidente Eleito» Ouattara? Eis a questão.
Dúvidas e incertezas
A União Africana indicou cinco Chefes de Estado para constituir o painel encarregado de encontrar uma solução para a crise política na Costa do Marfim num prazo de não mais de um mês.
Os líderes do Burkina Faso (CEDEAO), Tchad (África Central), Mauritânia (Magrebe), África do Sul (SADC) e Tanzânia (Àfrica Oriental) farão parte do painel, juntando-se a Bingo wa Mutharika e Jonathan Goodluck.
Espera-se que o painel defina uma resolução de cumprimento obrigatório para ambas as partes do conflito ivoiriense, o Presidente em funções Laurent Gbagbo e o Alassane Ouattara, reconhecido pela comunidade internacional, incluindo as Nações Unidas, como o vencedor das últimas eleições presidenciais realizadas em Novembro de 2010.
Conforme noticiava a Voz da América em Dakar, a 31 de Janeiro de 2010, observadores no entanto já expressam dúvidas quanto à consecução desse desiderato, seja quanto à efectividade do cumprimento obrigatório, seja no prazo indicado. O único consenso entre os membros do painel parece ser o que o Presidente Abdel Aziz resumiu dizendo que «a única maneira de encontrar uma solução africana para um problema africano é através da aplicação da sabedoria, cultura e valores africanos».
Quanto ao resto, segundo as mesmas fontes, as divergências persistem. Enquanto o Presidente Jonathan da Nigéria e Presidente em exercício da CEDEAO continua defendendo a posição do uso da força para apear Gbagbo do poder, Jacob Zuma da África do Sul, em representação da SADC, defende que os mediadores da União Africana «deverão ter em linha de conta as preocupações de Gbagbo em relação à eventuais fraudes efectuadas no processo de votação». Observadores acreditam que a posição de Zuma foi concertada com o Presidente dos Santos de Angola, a primeira e até agora única voz que se posicionou explicitamente a favor de Gbagbo.
Este manifestou através de um porta-voz que acolhia favoravelmente a criação do painel, e convidava-o desde já a deslocar-se à Costa do Marfim para promover as negociações com Alassane Ouattara. Porém o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Algid Djedje foi avisando que o seu governo «não aceitará as suas constatações a não ser que estejam de acordo com a constituição ivoiriense», numa clara indicação que rejeitará qualquer conclusão que indique que Gbagbo perdeu as eleições de Novembro, já que foi declarado vencedor pelo Conselho Constitucional.
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