sexta-feira, julho 02, 2010

Telefónica está viva da costa


Adoro os comentários patrioteiros e nacionalistas que se ouvem por aí, pelo que eles revelam da saloiice lusitana e por não se centrarem no fundo da questão. Independentemente de todas as histórias por contar e certamente são muitas, vamos ao essencial:
(i)           A PT é uma empresa privada, onde o Estado não controla – et pour cause – mais de metade do capital. Na Assembleia Geral, votaram a favor da proposta da venda da Vivo à Telefónica ¾ dos accionistas enquanto apenas um quarto votou contra. Logo, as coisas foram democrática e legalmente decididas em Assembleia Geral. Todavia, houve uma entorse abusiva por parte do Estado, com a utilização da Golden Share, numa atitude premeditada, prepotente e frontalmente contrária aos mecanismos da economia de mercado.   
(ii)          Não se podem por entraves à livre circulação de capitais, regra de ouro que deve ser respeitada a todo o custo, pilar fundamental da União Europeia a que perencemos. Ora, estamos na União Europeia ou não estamos?  É que talvez fosse preferível não estarmos a julgar pelo choro das carpideiras. Como me dizia um diplomata português que eu conheci muito bem, num conturbado período de perguntas e respostas numa conhecida universidade europeia, no país onde estava acreditado, a que assisti, pouco antes da nossa adesão à então CEE. Dizia ele, calmamente, perante o coro de opiniões negativas que se ouviam insistentemente por parte dos professores, estudantes, jornalistas  e pseudo-estudantes: “Não somos obviamente obrigados a ingressar no clube. A opção está sempre entre entrar ou não entrar, mas se entrarmos temos de respeitar integralmente as regras.” Por outras palavras, se ingressamos no clube respeitamos os estatutos.
(iii)         Como muito bem refere a edição de ontem do Financial Times “Golden shares were created to make privatisation politically palatable” e foram utilizadas muito raramente.  Não sou insensível ao patriotismo, antes pelo contrário, mas neste caso, sem embargo dos argumentos em prol do “interesse estratégico nacional”(aliás, sempre muito discutível)  e quejandos, trata-se de uma operação meramente comercial e não mais do que isso. Não me venham com histórias da carochinha! Nesta matéria quem tem unhas (capital) é que toca guitarra, o resto é “cumbersa”.

Este manifesto e despudorado desrespeito pelas regras comunitárias, que aceitámos livremente e sem quaisquer constrangimentos, já nos levou à condenação (e risota) na praça pública – “colonial folly” no dizer do mesmo Financial Times - e daqui vamos passar para a barra dos tribunais, onde a sentença não nos será favorável. Acresce que a utilização da “golden share” e a forma como foi feita   desacredita-nos e desacredita ainda mais a Europa que queríamos e queremos construir. Não é com patriotismos bacocos e com atitudes imbecis que atingimos os nossos objectivos. Isto faz lembrar aqueles jogadores de futebol que se atiram para o chão na grande área adversária para ver se ganham o penalty. É feio, muito feio quando não se sabe perder. Doa a quem doer, as regras são para cumprir. Ponto final!
Perguntinha sacana que não vem a despropósito: será que estaríamos melhor se tivéssemos feito uma parceria com Carlos Slim? Era isso o que queria Sócrates?

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